O Mito do Macho Alfa


Eu sou o Alfa!”, diz o personagem Peter Hale, o lobisomem mau, narcisita e arrogante, no último episódio da terceira temporada da série Teen Wolf (Adolescente Lobo) quando este retorna para reconquistar o seu status de líder da alcateia. “Eu sou o Alfa! Eu sempre fui o Alfa!”, ele diz.

Há hoje uma preocupação crescente, que beira a paranoia, sobre o que é ser homem. Isto vem criando vários tipos discursos sobre os benefícios de ser, ou de se tornar um Macho Alfa, baseando-se essencialmente na dominância como característica principal da masculinidade. Mas o Macho Alfa é tudo aquilo que andam dizendo que ele é?


Lendo alguns dos vários textos e artigos na internet (basta googlar “macho alfa”, ou qualquer combinação destas palavras com algumas outras, para achá-los), percebe-se que muitos destes discursos se centram na necessidade do homem ser “homem”, basicamente tentando recapturar o conceito tradicional do macho dentro da arena político-social—como se não houvessem outras alternativas viáveis para a existência do sexo masculino.

Já os outros vários dos muitos textos que compõem este discurso do macho alfa revelam uma grande preocupação dos jovens em “pegar”, conquistar, seduzir mulheres através do culto do esteriótipo do macho alfa, também, como se não houvessem outras alternativas para a masculinidade neste novo século

Este discurso também se espalha no Brasil, é claro, e se manifesta também das duas maneiras descritas acima. No entanto, conquistar mulheres parece ser a grande, a verdadeira, a importante e mais séria preocupação dos nossos rapazes brasileiros. E a nova tendência apresentada a eles para a resolução deste aparente problema, é optar em se tornar um Alfa, onde definições, dicas, dicas passo-a-passo, testes, notas sobre linguagem corporal, técnicas de aprendizado alfa, enfim, guias e manuais oferecidos, graturitamente, parecem dizer, “Seja alguém que você não é”. Evidentemente, o tema está em voga.

Na tentativa de contribuir para discussão sobre a masculinidade, e sobre o macho alfa, estamos repostando o texto abaixo que foi publicado originalmente no site The Art of Manliness (“A Arte da Masculinidade”) no dia 7 de julho de 2014. Apesar das pesquisas usadas e citadas no texto estarem no contexto dos Estados Unidos, o artigo do doutor em psicologia Scott Barry Kaufman, traz uma perspectiva interessante sobre as características que as mulheres tendem a buscar em homem que pode facilmente ser aplicada no contexto brasileiro. Assim o fazendo, ele fortemente questiona o mito do macho alfa, enquanto o homem dominante, e lança outras possibilidades de ser um homem realizado e realizador e, ao mesmo tempo, atraente às mulheres.

 


O Mito do Macho Alfa
Artigo escrito por Scott Barry Kaufman.

Existe uma série de falsas dicotomias soltas por aí—lado esquerdo do cérebro vs. lado direito do cérebro, natureza vs. criação etc. Mas um mito bem persistente, que está literalmente custando vidas humanas, é a distinção entre os machos “alfa” e os machos “beta”.

Como a estória é tipicamente contada, há dois tipos de homem.

Os machos “alfa” estão no topo da hierarquia do status social. Eles têm um acesso maior ao poder, dinheiro, e parceiras, os quais eles adquirem através de habilidades físicas, intimidação, e dominância. Os alfas são geralmente descritos como os “homens de verdade”. Do outro lado estão os machos “Beta”: os fracos, submissivos, os caras subordinados que têm de um status inferior, e só conseguem acesso a parceiras quando as mulheres decidem se assentarem e, assim, partem à procura de um “cara legal”.

Esta distinção, a qual é frequentemente baseada em observações da interação que ocorre entre outros animais sociais (tais como chipanzés e lobos), pinta um quadro em preto e branco do quê é a masculinidade. Esta distinção não somente simplifica enormemente a multi-dimensionalidade da masculinidade, e grosseiramente subestima aquilo que um homem é capaz de se tornar, mas ela também não chega perto daquilo que é realmente atrativo às mulheres.

Como diz o ditado, quando tudo o quê você tem se resume em um martelo, você somente verá pregos. Quando impomos ao mundo apenas duas categorias de machos, estamos desnecessariamente enganando os jovens a agirem de maneiras predefinidas que na verdade não são favoráveis para atrair e sustentar relações sadias e agradáveis com as mulheres, ou mesmo para encontrar sucesso em outras áreas da vida. Por isso, então, vale a pena examinar o elo entre, o assim chamado, comportamento “alfa” (como a dominância) e a atratividade, respeito, e status.

A Ciência da Dominância
Vamos considerar um dos mais antigos conjuntos de estudos [realizado nos anos 80] sobre a relação entre dominância e atratividade. Os pesquisadores apresentaram vídeo e textos aos participantes com cenários que mostravam dois homens interagindo um com o outro. Os cenários variavam sobre se o homem agiu de forma “dominante” ou “não dominante”. Como exemplo, aqui vai um trecho do cenário que apresentava o homem como dominante:

John tem 1 metro e 77 centímetros, e pesa 75 quilos. Ele vem jogando tênis por um ano e atualmente está matriculado no nível intermediário de um curso de tênis. Apesar da quantidade limitada de treinamento ele é um jogador que tem boa coordenação, vencendo 60% das partidas jogadas. Seus saques são fortes e suas devoluções são extremamente poderosas. Além de suas habilidades físicas ele tem as qualidades mentais que levam ao sucesso no tênis. Ele é extremamente competitivo, recusando-se a ceder contra aqueles adversários que vêm jogando há muito mais tempo do que ele. Todos os seus movimentos tendem a transmitir dominância e autoridade. Ele tende a dominar psicologicamente seus adversários, tirando-lhes a concentração e os levando a cometer erros mentais.

Em contraste, aqui está um trecho de um cenário em que o mesmo jogador de tênis é representado como “não dominante”:

John tem 1 metro e 77 centímetros, e pesa 75 quilos. Ele vem jogando tênis por um ano e atualmente está matriculado no nível intermediário de um curso de tênis. Apesar da quantidade limitada de treinamento ele é um jogador que tem boa coordenação e que venceu 60% das partidas jogadas. Seus saques e suas devoluções são consistentes e bem jogadas. Embora ele jogue bem, ele prefere jogar para se divertir ao invés de jogar para ganhar. Ele não é particularmente competitivo e tende a ceder aos adversários que jogam tênis há muito mais tempo do que ele. A sua concentração no jogo é facilmente retirada por adversários que jogam com grande autoridade. Adversários fortes são capazes de dominá-lo psicologicamente, às vezes lhe tirando a concentração. Ele se diverte jogando tênis, mas evita situações altamente competitivas.

Através de quatro estudos, os pesquisadores descobriram que os cenários de dominância foram considerados mais atraentes ao nível sexual, muito embora o John dominante tenha sido considerado menos simpático e não desejado enquanto cônjuge. À primeira vista, este estudo parece defender a ideia da maior atratividade sexual do macho alfa dominante sobre aquela do macho beta submisso.

Mas isso não é tudo.

Em um estudo complementar, os pesquisadores isolaram vários termos para identificar quais seriam os termos realmente considerados sexualmente atrativos. Muito embora eles tenham descoberto que “dominância” foi um termo considerado sexualmente atraente, as tendências “agressivas” e “dominadoras” não aumentaram a atratividade sexual das participantes. Parecia haver muito mais nesta estória toda do que somente a mera oposição dominância vs. submissão.

E aí vem um estudo realizado por Jerry Burger e Mica Cosby [publicado em 1999]. Os pesquisadores pediram a 118 estudantes do sexo feminino para ler as mesmas descrições de John O tenista (dominante vs. submisso), mas acrescentou uma condição de controle importante em que algumas participantes só leram as três primeiras frases da descrição (veja as frases acima que estão em itálico). Assim como no estudo anterior, as mulheres consideraram o John dominante mais atraente sexualmente do que o John submisso. No entanto, o John representado na condição de controle (o John só das frases em itálico) recebeu a maior classificação de todos eles no quesito atratividade sexual!

O quê significa isso? Bem, certamente o resultado não significa que a bem curta descrição de três frases [em itálico] sobre o John da condição de controle, tenha o tornado sexualmente atraente. Ao contrário, o mais provável é que as informações fornecidas sobre o comportamento dominante ou sobre o comportamento não dominante de John, isoladamente das outras informações sobre ele, tenham o tornado menos atraente sexualmente. Os pesquisadores concluem: “Resumidamente, uma simples dimensão dominante-não dominante apresenta um valor limitado quando se tenta prever as preferências das mulheres em relação aos seus parceiros sexuais”.

Em seguida, os pesquisadores brincaram com os termos usados para descrever o John. Na condição de “dominante”, os participantes leram uma breve descrição de John e foram informados de que um teste de personalidade recente descobriu que John apresentava cinco traços mais proeminentes, que eram agressivo, assertivo, confiante, exigente, e dominante. Os participantes da condição de “não dominante” leram o mesmo parágrafo, mas receberam a informação de que as cinco características de personalidade mais importantes dele eram: descontraído, calmo, sensível, tímido e submisso. Os participantes da condição de controle só leram o parágrafo curto (as três linhas em itálico), mas não receberam nenhuma informação sobre a personalidade de John.

Em seguida, os pesquisadores pediram às mulheres para indicar qual dos adjetivos usados ​​para descrever John seria o ideal para um encontro, bem como para um parceiro romântico de longo prazo. Entre as 50 universitárias que compuseram a amostra, os pesquisadores encontraram apenas uma mulher que realmente identificou o termo “dominante” como uma das características que ela buscava em um homem, tanto para um encontro ideal quanto para um parceiro romântico. Quanto aos adjetivos que restaram para o grupo do John dominante, os dois grandes vencedores foram confiante (72% procuraram este traço para um encontro ideal, e 74% buscaram este traço em um parceiro romântico ideal) e assertivo (48% buscavam este traço uma encontro ideal, e 36 % buscavam este traço em um parceiro romântico ideal). Nenhuma mulher buscava um homem exigente, e apenas 12% queria uma pessoa agressiva para um encontro e para ser um parceiro romântico.

Em termos dos adjetivos do grupo não dominante, os grandes vencedores foram descontraído (68% procuravam este traço em um encontro ideal, e 64% buscavam este traço para um parceiro romântico ideal) e sensível (76% buscavam esta característica em um encontro ideal e também em um parceiro romântico ideal). Nenhuma mulher estava em busca de um macho ‘submisso’ para um encontro e nem para um romance. Outros adjetivos que ficaram em baixa posição no grupo não dominante foram tímido (2% para um encontro; 0% para parceiro romântico) e quieto (4% para ideal, 2% para o romântico).

Esta análise foi reveladora pois sugere que dominância pode assumir várias formas. O macho dominante que é exigente, violento e egocêntrico não é considerado atraente para a maioria das mulheres, enquanto que o macho dominante que é assertivo e confiante é considerado atraente. Como sugerem os pesquisadores, “Os homens que dominam outros por conta de suas qualidades de liderança e outras habilidades superiores e que, portanto, são capazes e estão dispostos a sustentar suas famílias, serão os preferidos como possíveis parceiros quando comparados aos homens que não possuem esses atributos”.

O resultado também sugere que sensibilidade e determinação não são fatores opostos. Na verdade, outras pesquisas sugerem que a combinação de gentileza e determinação pode ser a combinação mais atratente. Através de três estudos [1995], Lauri Jensen-Campbell William G. Graziano, e Stephen G. West, descobriram que não era ‘somente’ dominância, mas sim a interação de dominância com comportamentos pró-sociais, que as mulheres relataram ser mais atraente ao nível sexual. Em outras palavras, a dominância somente aumentou a atração sexual quando a pessoa já estava em alta no quesito afabilidade e altruísmo.

Na mesma linha, Jeffrey Snyder e seus colegas relataram que dominância foi atraente para as mulheres (tanto para um caso amoroso de curto prazo quanto para um relacionamento mais sério) apenas no contexto de competições entre homens. Significativamente, as mulheres não consideraram atraentes aqueles homens que usaram dominância agressiva (força ou ameaça de força) enquanto competiam com os seus colegas pela liderança para tomar decisões informais. Isto sugere que as mulheres estão antenadas aos sinais que indicam que o homem pode dirigir a sua agressividade em direção a elas, fazendo com que a dominância dirigida a concorrentes seja considerada mais atraente do que a dominância dirigida a amigos ou a membros de uma coalizão. Colocando em um contexto do mundo real, podemos citar como exemplo aquele cara na escola por quem todas as meninas suspiram, que é o mesmo cara que pode dominar um jogador do time da escola rival no campo de futebol na partida de sexta-feira à noite, mas que também é simpático e amigável com seus colegas de turma durante a semana.

Traçar a distinção entre os diferentes tons de dominância e como eles interagem com gentileza e bondade, não é somente importante para se entender a atração sexual entre seres humanos. Esta distinção também tem profundas implicações na evolução do status social.


“Espera um minuto... Algumas mulheres não caem pelo macho cafajeste? Eu já vi isso acontecer!”

Enquanto estudos mostram que a maioria das mulheres acham os homens de prestígio mais atraente do que os homens dominantes, tanto para um caso romântico de curto prazo quanto par um relacionamento de longo prazo, outras pesquisas também sugerem que, quando dada a escolha, algumas mulheres ainda escolheriam ficar com um babaca dominante ao invés do íntegro homem de prestígio. Mulheres com uma história de “vida turbulenta” (ou seja, as mulheres que cresceram em um ambiente inseguro e instável, com pouco ou nenhum apoio dos pais), inseguras em relação a se apegarem emocionalmente, que se agarram a emoções hostis, e que tenham posições sexistas em relação ao sexo feminino, geralmente adotam uma estratégia de parceira romântica de curto prazo e engajam em atividades sexuais frequentes e sem compromisso (Olderbak & Figueredo, 2010; Bohner et al, 2010; Kirkpatrick & Davis, 1994). Essas mulheres geralmente dão preferência ao estereótipo do macho “alfa” dominante e agressivo do que ao macho mais pró-social e de prestígio (Hall & Canterberry de 2011).

Embora seja possível conquistar algumas mulheres agindo como um “alfa”, por causa do tipo de mulheres que este método de sedução atrai, os casos românticos nos quais você [homem] aterriza com sucesso podem se tornar mais confusos do que você imagina. É por esta razão que os homens que caem na ideologia do macho alfa são frequentemente vítimas de uma tendência preconceituosa em relação às suas percepções sobre as mulheres: pelo fato de que as mulheres que são atraídas a eles são menos estáveis ​​e mais promíscuas, eles passaram a acreditar que todas as mulheres são “vadias” e “loucas”.

Ao mesmo tempo, quando esses homens experimentam as suas técnicas de pegação dominante sobre as mulheres mais bem ajustadas, a hostilidade e o narcisismo deles causa calafrios nas mulheres, levando-as a rejeitar esses caras. Esta rejeição faz com que estes pretensos “mestres da pegação” se tornem mais hostis às mulheres, e ainda concluem que o problema se baseia no fato de que eles são uns “caras legais” demais. Eles, então, tentam elevar os seus quocientes alfa ainda mais, o que faz com que mais mulheres se afastem deles. E o ciclo continua.


Dominância vs. Prestígio
Na nossa espécie, a obtenção de status social e os benefícios de acasalamento que vêm junto a isto, podem ser conquistados através da compaixão e da cooperação tanto quanto (se não mais) através da agressão e intimidação. Estudiosos das áreas da etnografia, etologia, sociologia e sociolinguística acreditam que pelo menos duas das rotas para o status social—dominância e prestígio—surgiram em épocas diferentes e com finalidades diferentes durante a história evolutiva.

A rota da dominância é pavimentada com intimidação, ameaças e coerção, e é alimentada pelo orgulho húbris. A húbris é associada com arrogância, presunção, com os comportamentos anti-sociais, com os relacionamentos instáveis​​, baixos níveis de consciência e níveis elevados de desagradabilidade, neuroticismo, o narcisismo, e com os resultados de desequilíbrios psíquicos. A húbris, juntamente com os sentimentos associados a ela, como a superioridade e a arrogância, facilita a dominância ao motivar comportamentos como a agressividade, a hostilidade e a manipulação.

Em contraste, o prestígio é pavimentado com a onda emocional causada por conquistas e realizações, confiança e sucesso, e é alimentada pelo orgulho autêntico. O orgulho autêntico está associado a comportamentos pró-sociais e orientado à conquistas, afabilidade, consciência, à satisfação das relações interpessoais e boa saúde mental. Fundamentalmente, o orgulho autêntico está associado a verdadeira auto-estima (considerando-se uma pessoa de valor, e não se considerando superior aos outros). O orgulho autêntico, juntamente com os sentimentos associados a ele, como os sentimentos de confiança e de realização, facilita os comportamentos que estão associados a obtenção de prestígio. Pessoas que são confiantes, agradáveis, trabalhadoras, enérgicas, gentis, empáticas, não dogmáticas, e ricas em auto-estima genuína, servem como inspiração a outras pessoas e fazem com que outras pessoas queiram se igualar a elas.

Estas duas rotas para obtenção do status social masculino também foram observadas entre os Tsimane (uma pequena sociedade amazônica). Nesta sociedade, dominância (como classificado por membros pares daquele grupo social) foi positivamente relacionada ao tamanho físico, enquanto o prestígio, classificado pelos membros daquela sociedade, foi positivamente associado com a habilidade na caça, com a generosidade, e com o número de aliados.

Interessantemente, enquanto os defensores da atitude dominante frequentemente utilizam os chimpanzés como prova da exclusividade desta rota para o status masculino, uma pesquisa recente mostrou que, mesmo entre os primatas, o status macho alfa pode ser conseguido não só através de tamanho e força, mas através de habilidades de sociabilidade bem como através dos cuidados de higiênie de outros.

Flexibilidade e Adaptabilidade: As vantagens do Prestígio
Muito embora a partir das descrições acima seja tentador dizer que dominância é “ruim” e que prestígio é “bom”, esta ainda seria uma declaração simplista demais. O quê muitas vezes falta nas discussões sobre ser um macho “alfa” ou ser um macho “beta”, é o contexto específico destes status. Um Diretor Executivo de uma empresa presente na lista Fortune 500 da revista Fortune tem um alto nível de status em nossa sociedade, mas se ele jogado dentro da população geral de Sing Sing, ele se veria no fundo da ordem social daquele presídio. Você pode ser um macho alfa entre um grupo, e ser um macho beta em outro grupo.

No contexto de um ambiente hostil, perigoso, o macho dominante é valorizado, porque ele pode conseguir o que quer, e fornecer recursos para aqueles que irão se submeter a ele e segui-lo. Ele não precisa empregar habilidades além de força e de intimidação. Mas fora da sociedade puramente barbárica (ou seja, a maior parte da história humana), é o homem de prestígio que governa. Ele está preparado para ter mais sucesso em uma ampla variedade de circunstâncias.

Em um conjunto de estudos [de 2010] realizados sobre os atletas universitários, foi revelado que os indivíduos dominantes tinham níveis mais baixos de verdadeira auto-estima, de aceitação social e de afabilidade, e tinham maiores níveis de narcisismo, agressividade, agência, desagradabilidade e conscienciosidade. Indivíduos dominantes foram classificados por seus colegas como superiores no atletismo e em liderança, mas inferiores em altruísmo, cooperativismo, utilidade, eticidade e moralidade.

Por outro lado, os indivíduos de prestígio apresentaram níveis mais baixos de agressão e neuroticismo, e níveis mais elevados de verdadeira auto-estima, aceitação social, de afabilidade, e de boas notas. Além disso, o prestígio foi fracamente relacionado ao narcisismo de auto-engrandecimento. Assim como seus parceiros dominantes, os indivíduos de prestígio foram classificados como sendo melhores líderes e mais atléticos, no entanto eles também foram considerados mais intelectuais, socialmente qualificados, altruístas, cooperativos, úteis, éticos e morais.

Estes resultados mostram claramente que dominância e prestígio representam formas bem distintas de se atingir e de se manter status. Mas, novamente, vale a pena reiterar a sobreposição: qualidades como força, liderança, bondade e moralidade podem existir na mesma pessoa; as categorias rígidas de “alfa” e “beta” criam verdadeiramente uma falsa dicotomia que obscurece o quê um homem é capaz de se tornar. Enquanto dominância pode ser vantajosa em um conjunto restrito de circunstâncias, o prestígio é muito mais valorizado em quase todos os contextos. Devido ao orgulho autêntico, indivíduos de prestígio são mais propensos a serem respeitados, socialmente aceitos e, portanto, bem-sucedidos. Quem você preferiria ter em sua equipe—o Kevin Durant ou o Dennis Rodman?

Aqui vai uma outra maneira de se olhar para a diferença entre as duas rotas ao status: Dominância é uma estratégia de curto prazo para o sucesso; prestígio é uma rota de longo prazo. Dominância é uma qualidade que pode ajudar nas conquistas, mas a esta falta a capacidade de governar aquilo que você conquistou. Entre os chimpanzés, uma vez que um macho tenha lutado para chegar ao topo, e se tornar o alfa, o usufruto daquele status é de curta duração; outro macho dominante em breve o desafiará e irá derrubá-lo do seu trono. No plano cultural, os povos como os mongóis ou Vikings dominavam os outros e foram os alfas de suas épocas, mas não foram capazes de se adaptar, e morreram. Homens de prestígio—como os pais fundadores dos EUA—foram capazes de criar um legado que continua vivo até hoje.

Conclusão

Não é o macho alfa nem o macho beta o mais desejado pelas mulheres.

Considerando todo o conjunto, os estudos sugerem que o homem ideal (tanto para um encontro quanto para ser um parceiro romântico) é aquele que é assertivo, auto-confiante, descontraído, e sensível, sem ser agressivo, exigente, dominante, quieto, tímido, ou submisso. Em outras palavras, um homem de prestígio, e não um homem dominante.

Na verdade, tudo indica que o homem de prestígio que recebe nota alta em assertividade e bondade é considerado o mais atraente para as mulheres, tanto para os namoricos de curto prazo quanto para os relacionamentos de longo prazo. Esta pesquisa deve oferecer alguma garantia de que o rapaz verdadeiramente agradável, apaixonado por algo e que aprende uma habilidade culturalmente valorizada, pode ser extremamente atraente.

Ademais, a busca em tornar-se um homem de prestígio não é apenas o caminho mais certo para alcançar sucesso com as mulheres, mas também para conquistas em qualquer área da vida.

Desta forma, eu acho que para homens que têm dificuldade em atrair as mulheres, uma rota muito mais eficaz e saudável não é aquela que tenta cultivar as características estereotipadas do “alfa” dominante, mas sim a do cultivo dos traços do homem de prestígio. Isto significa em desenvolver uma habilidade que traz valor para a sociedade, e cultivar um senso de identidade estável. Tal percurso, não irá somente tornar você mais atraente para as mulheres, mas também irá criar para você mesmo uma vida mais gratificante de um modo geral. A meu ver, a tentativa de assumir a persona do macho “alfa” é análoga a construção de um castelo de cartas. Não há nenhuma base estável apoiando aquilo que você vale.

É hora de largarmos essas categorias em preto e branco e abraçarmos um conceito de masculinidade bem mais multidimensional. O macho mais atraente é na verdade uma mistura de características, incluindo a assertividade, a bondade, as habilidades de cultivo, e um genuíno senso de valor neste mundo. O verdadeiro alfa é mais completo, mais profundo e muito mais substancioso.



Quem é Scott Barry Kaufman.

Scott Barry Kaufman é Diretor Científico do The Imagination Institute e pesquisador do Centro de Psicologia Positiva da Universidade da Pensilvaniana, onde ele investiga a natureza, medida e o desenvolvimento da imaginação. Ele é co-autor do livro Mating Intelligence Unleashed: The Role of the Mind in Sex, Dating, and Love (“A Inteligência do Acasalamento à Solta: O papel da mente no sexo, namoro e amor”) Em seu livro “O Não Talentoso: Inteligência redefinida”, Kaufman apresenta uma abordagem holística para a conquista e realização que considera a habilidade, o engajamento, e os objetivos pessoais de cada pessoa. Kaufman é co-fundador do The Creativity Post, e escreve o Blog Beautiful Minds para o Scientific American Mind. Kaufman completou seu doutorado em psicologia cognitiva na Yale University em 2009 e fez seu mestrado em psicologia experimental na Cambridge University em 2005.

c&p

2 comentários:

  1. Já havia lido esse artigo em inglês e achei ótimo, agora encontro traduzido para português! Fantástico! Você fez um serviço à humanidade, texto muito elucidativo! Parabéns pelo blog

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