Porquê Comparar Negros a Macacos Não Deve Ser Motivo de Piada


Ota Benga, Zoológico do Bronx, Nova York em 1906

A foto acima é do pigmeu Ota Benga que ficou em exibição junto a macacos no Zoológico do Bronx, Nova York, em 1906. Ota foi levado do Congo para Nova York e sua exibição em um zoológico americano serviu como um exemplo do quê os cientistas daquela época proclamaram ser uma raça evolucionária inferior ao ser humano. A história do jovem Ota serviu para inflamar as crenças sobre a supremacia ariana defendida por Adolf Hitler. Sua história é contada no documentário “The Human Zoo” (O Zoológico Humano).

Comparar os negros a macacos não é nada maneiro.

Assim como aquela velha e infeliz “piada” que pergunta, qual a diferença entre uma lata cheia de merda e um negro?, as piadas que comparam negros a macacos são racistas em sua essência; não são inovadoras, originais ou mesmo inteligentes pois humilham, causam constrangimento, tristeza e mal-humor em várias pessoas, pricipalmente aquelas que sabem o real significado de ser não-branco no Brasil. E a causa desse constrangimento tem uma razão histórica, como veremos.

Hoje vemos no Brasil o comportamento racista contra os negros surgindo de forma não camuflada e assim abalando as bem fracas estruturas do mito nacional da democracia racial. E nestes últimos dias o Brasil testemunhou casos onde negros sofreram humilhação pública, ofensas que utilizaram a figura do macaco dentro de um espaço já tradicionalmente reconhecido como popular, racialmente democrático e diverso: a arena de futebol.

O árbitro de futebol Márcio Chagas da Silva foi mais um alvo de racismo no último dia 5, durante a partida entre Esportivo e Veranópolis, no Estádio Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, quando ele, na entrada do jogo, foi chamado pela torcida de “macaco”, “imundo”, e “escória”. E mais tarde o árbitro encontrou seu carro amassado e sujo com bananas, inclusive no cano do escapamento, assim reportado pelo Portal Terra.

Um dia depois mais um caso ocorreu, desta vez em São Paulo, como noticiou o jornal Estado de São Paulo:

“Após ser chamado de ‘macaco’ no Estádio Romildo Ferreira, em Mogi Mirim, o volante Arouca repudiou as ofensas racistas que sofreu de torcedores na vitória do Santos por 5 a 2 contra o time da casa. Em nota, o atleta, que fez o terceiro gol da equipe praiana no jogo, classificou como ‘lamentável e inaceitável’ os xingamentos ouvidos na noite da última quinta-feira, em partida válida pelo Campeonato Paulista.”

Esse tipo de ofensa vem ocorrendo em todo o mundo, e aumentou bastante desde que Barak Obama se tornou presidente dos Estados Unidos, tendo ele sido alvo de várias caricaturas humilhantes retratando-o como macaco, e que tiveram o intuito único e absoluto de ofender o primeiro negro a ocupar o cargo de presidente daquele país. Estádios de futebol na Europa também se tornaram palco deste tipo de insulto regularmente.

Entretanto, muita gente não compreende a magnitude e profundidade da utilização da figura do macaco como insulto aos negros, mesmo quando a utilização da figura daquele animal tem como objetivo fazer alguém rir.

Já algum tempo atrás, um humorista fez uma piada onde comparou o King Kong a jogadores de futebol. Entidades e grupos afro-brasileiros repudiaram tal piada e através de um twitter o humorista pergunta porque não se pode chamar um negro de macaco.

Esta postagem não é uma tentativa de explicação do porque não se pode chamar um negro de macaco, mas sim uma explicação do porque não se deve fazer esta comparação, e porque e como a mesma fere profundamente algumas pessoas.

Bem, tudo tem uma raíz histórica.

James Bradley, professor de História da Medicina/Ciência da Vida da University de Melbourne, na Austrália, em seu texto “The ape insult: a short history of a racist idea” (O Macaco Como Insulto: Uma curta história de uma idéia racista), publicado no site The Conversation: Academic rigour, journalistic flair, detalha o uso ofensivo da comparação de descendentes de africanos com o animal macaco. Ele diz que para se “entender a força e o objetivo do uso do macaco como insulto, a gente precisa de uma dose de história”.

Para isso ele retorna ao século 18, momento no qual as teorias da evolução já estavam sendo propostas, e que as teorias de Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet, Chevalier de Lamarck (1744-1829) o tornaram o ancestral das teorias de Darwin. Bradley diz que para Lamarck a evolução não se deu através da seleção natural no espírito darwiniano, mas sim através de uma força vital que levou organismos a se tornarem mais complexos, funcionando em combinação com a influência do ambiente. Segundo Bradley, “nesta visão, os seres humanos não compartilhariam um ancestral em comum com os macacos”, eles seriam na verdade, “os diretos descendentes dos macacos”, e por consequência, os africanos “se tornaram o elo entre os macacos e os europeus”.

A teoria de Lamarck junto às várias outras teorias similares da época, foram vitais para a elaboração do racismo científico—também conhecido como pseudo-ciência, ou falsa ciência. Bradley novamente nos explica que ao fazer parecer que os “não-europeus seriam mais macacos do quê humanos, essas diferentes teorias foram usadas para justificar a escravidão nas Américas e o colonialismo no resto do mundo”. O autor acredita que todas aquelas diferentes teorias “científicas e religiosas operaram na mesma direção”, ou seja, “reforçar a direito europeu de controlar grande parte do mundo”. E esta foi a maneira que os europeus se diferenciaram não só biologicamente mas também “culturalmente”, mantendo sua superioridade sobre os outros povos.

Bradley por fim faz uma importante proposição: “Invocar a imagem do macaco é acessar o poder que levou a desapropriação das populações não-européias e outras heranças do colonialismo”. E interessantemente ao se referir ao contexto australiano, mas que tem uma repercursão também em várias outras partes do mundo, o autor termina seu texto dizendo:

“Claramente, o sistema educacional não faz o suficiente para nos educar sobre a ciência ou a história do homem. Porque se o fizesse, nós veríamos o desaparecimento do uso do macaco como insulto”.

A razão pela qual não se deve comparar negros a macacos, é por esta ser uma simples repetição de uma parte perversa da nossa história, e que por ainda ser o Brasil uma sociedade de imensas desigualdades sociais, essa comparação se torna altamente perigosa. Assim, mesmo enquanto piada, a comparação não é inovadora nem mesmo original ou inteligente, pois usa as idéias obsoletas criadas no século 18 como base para o humor. Estas piadas reforçam o racismo já estabelecido na nossa sociedade e só servem a um único objetivo: aumentar a aura de falsa superioridade biológica e cultural do branco, aumentando consequentemente, as desigualdades entre a população.

A comparação do negro ao macaco também evoca a crença escavocrata de que os escravos africanos, por serem equivalentes aos animais, não tinham alma.

A equação negro = macaco poderia não ser ofensiva caso esta não tivesse feito parte de uma estratégia engenhosamente construída para legitimar o controle e o domínio sistemático sobre a população africana que durou 4 séculos. Esta equação retirou o caráter humano da população africana e de seus descendentes tranformando-os em seres inferiores. Esta equação não somente justificou o trabalho forçado e não remunerado nas grandes lavouras, mas também dividiu milhões de famílias e transformou milhões de seres humanos em mercadoria que com o respaldo social, legal e científico para a sua inferioridade podiam ser sitematicamente humilhados, torturados, estuprados e assassinados à mercê do humor de seus donos. Comparar negro a macaco é, queira ou não, reviver e venerar um dos mais horríveis e longos episódios da história da humanidade.

Ainda, fica claro que fazer piada sobre um grupo social historicamente fragilizado é fácil, pois quem o fizer receberá o apoio de uma parte da sociedade que tem cravado em seu imaginário coletivo a crença de que os negros gostam de ser humilhados e ofendidos, e que podem ser humilhados e ofendidos por serem inferiores. Todavia, fazer alguém rir sem usar a ofensa, por ser difícil, ainda será uma tarefa a ser realizada somente pelos portadores de real talento humorístico.

Piada, humor e comédia em geral, servem para liberar as mais variadas emoções escondidas no ser humano, geralmente criando um senso de bem estar, mas hoje temos um monstro à solta nos estádios de futebol, nos salões de manicure, por aí, nas ruas. Isso nos leva a crer que parte do humor que ataca gratuitamente a ideologia do “politicamente correto”, o faz tão somente como forma de justificar limitações artísticas.

Talvez seja esta uma outra razão pela qual não se deva comparar o negro ao macaco: as pessoas podem acreditar, já que uma população que muito carece de um sistema educacional de qualidade (desde a classe social mais alta até a classe baixa), tende a aprender, acreditar, imitar, tende a se educar através das verdades criadas pelas celebridades do mundo do entretenimento.

c&p

52 comentários:

  1. Maravilhoso seu texto, não tive tempo no momento, mas já coloquei no meus favoritos para poder ler as demais postagens. Parabéns!!!!

    ResponderExcluir
  2. Obrigado Elson. Com certeza não foi um tópico escolhido pelo prazer de postar. Esperamos que você também curta nossas outras postagens.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Interessante como você aborda o tema do racismo ou da supremacia de raças citando como exemplo o futebol. Um esporte onde temos a predominância do negro, diga - se de passagem com um talento memorável. Será que o racismo que existe no futebol é culpa somente dos torcedores brancos? Oque dizer sobre os jogadores negros que fomentam a tal ssupremacia branca quando na primeira oportunidade desfilam suas "arianas" em canais de televisão e na Internet! ? O próprio jogador citado no post acima tem sua linda loira... oque dizer dos negros que estão na mídia que não usam sua voz para lutar ou divulgar a causa do negro e muitas vezes nem sabe de sua história de luta ao longo dos séculos! ? Não vejo nenhum negro lutando pelo seu espaço, sua história, sua cultura... até o carnaval, que é um espetáculo cultural de origem negra, criado as custas de muito sofrimento dos negros ancestrais, já não ecoa mais a voz histórica do negro retirado da África e escravizado no Brasil e no mundo e sim serve de espetáculo para homenagear o branco que tanto oprime o negro, as rainhas de bateria, os destaques a bateria... nada mais pertence ao negro e sim ao branco opressor. Mas, de quem é a culpa!? O negro precisa se valorizar, precisa entender sua história de luta, de sofrimento e buscar seu espaço e só assim mostrarão seu verdadeiro valor, sem precisar de piedade de ninguém.

      Excluir
    2. Oi Anônimo,
      Sim, o "futebol" é um espaço repleto de simbologias, exemplos, e fenômenos que podem se tornar base para várias análises sobre relações raciais no Brasil. Todos os elementos que você citou, sem nenhuma dúvida, devem ser pensados quando se fala em 'raça' no Brasil.
      Contudo, o "futebol" foi usado como introdução deste artigo somente como exemplo de como a palavra "macaco" é usada como ofensa. Aquele episódio foi marcante e teve uma repercursão muito grande, muito embora a ofensa não tenha nascido ali--e esse foi o objetivo do artigo, oferecer um olhar histórico e social da utilização da palavra com uma ofensa.
      Obrigado pelo seu comentário.

      Excluir
  3. Cara, esta postagem é sensacional, é educativa e sobre tudo muito elucidativa...
    Parabéns!!!

    ResponderExcluir
  4. Todos os seres devem ser respeitados

    ResponderExcluir
  5. Sinceramente, em pleno século 21 e o mundo infestado de pessoas desse tipo, a ONU deveria ser mais rigorosa com esse tipo de coisa, por exemplo, 60 anos de prisão pra quem agisse com racismo radical, como foi o caso das bananas.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, muitas organizações nacionais e internacionais precisam se unir nos esforços para que o racismo termine e podemos também fazer isto no nosso dia-a-dia. No entanto sou a favor de um outro tipo de punição para este tipo de crime de racismo, desde que não se enquadre em homicídio ou lesão corporal: 2 anos de aulas sobre história dos povos negros e outras matérias, seguido de trabalho comunitário de 5 anos em área de grande concentração de negros (tipo fazer faxinas, limpar as vias públicas, pintar algumas residências bancando a tinta etc.). Isso seria para eles uma condenação pesada.

      Excluir
    2. Primeiro parabéns pelo texto. A ONU não tem capacidade alguma de gerir qualquer medida anti racismo, e/ou outra forma de agressão ao cidadão(haja visto o que ocorre diariamente no Oriente Médio). Aplicar pena vexatória em quem age de forma racista é uma faca de dois gumes. Embora fosse o justo, poderá vir a causar uma reação agressiva ainda maior por parte de racistas. Se aprendermos o valor que o ser humano tem, e nos reconhecermos como iguais, não importando cor de pele, ideologia política, fé, etc... o racismo acaba. É em casa que se aprende o que é certo e errado. Lógico que deve haver punição para crimes dessa natureza, mas os conceitos devem ser revistos na mais básica das instituições, nossa casa.

      Excluir
    3. Sim. Concordo absolutamente com o seu argumento, principalmente no que se refere à prevenção de manifestações de atos racistas, pois considerando o racismo algo tão complexo (por vezes abstrato), ele engloba os mais variados níveis da sociedade e por isso uma intevenção em todos estes níveis se faz necessária, começando em nossos lares. E por também concordar com você sobre as possíveis consequências de penas (vexatórias ou não), é que me pego em um dilemma imenso: o racismo é crime previsto na constituição. O quê fazemos com esse dado, então? Sobre isso, só uma certeza tenho: este é um tópico para várias outras postagens… Muito obrigado pelos seu comentário!!!

      Excluir
  6. Ainda não tinha parado para ligar tal ofensa aos fatos históricos.... impressionante e horrível... só quem é negro sabe como é doloroso, saber que desde crianças estamos fadados a humilhação, a desde pequenos já conhecer a discriminação, a perceber que muitas vezes é tratado diferente e visto diferente... saber que todos podem errar, mas quando nos erramos é a nossa raça que é apontada acima de qualquer coisa... Sinto uma profunda tristeza quando leio noticias de racismo. LAMENTÁVEL ESSE MUNDO QUE VIVEMOS!!! Parabéns pela matéria.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Com certeza Simone. É muito duro, principalmente quando se é pequeno, quando se é criança. E por isso temos que estar pensando em maneiras de aumentar a auto-estima dos nossos meninos e das nossas meninas todos os dias, pois eles precisam aprender a apreciar o respeito e, principalmente, conhecer suas histórias. Obrigado por seu comentário!

      Excluir
  7. Não tinha ligado a ofensa ao fato histórico... muito horrível, torna tudo ainda mais repugnante, não é fácil ser negro e não adianta dizer que nós "choramos demais", só quem é negro sabe o peso da nossa raça!!! Sabe o quanto é doloroso você desde pequeno já sentir que é visto como diferente.
    Tenho orgulho de quem sou, da minha origem, da minha família graças a Deus tem muito ser humano de verdade nesse mundo, diferente desses monstros que pregam o preconceito, seja ele de qual natureza. O jeito é fingir que a cor da minha pele não importa e continuar vivendo.

    ResponderExcluir
  8. Gostei muito do texto que nos mostra a visão da nossa cultura na sua mais forte evidencia é isso mesmo o que temos ai é um monte de mentira em relação ao negro Brasileiro que fez o próprio negro se torna preconceituoso também .

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim Oscar, muitas vezes o oprimido tende a querer ficar do lado do opressor, talvez até como estratégia de sobrevivência—um fato bem triste, ainda assim… Obrigado pelo seu comentário!

      Excluir
  9. Parabéns pelo texto! Muito esclarecedor, eu realmente não tinha visto toda essa questão do "somos todos macacos" por esse ângulo. Fico feliz por ter lido o texto e reavaliado minha opinião.

    ResponderExcluir
  10. Muito, muito bom! Extremamente didático e bem escrito. Será um dos textos com os quais trabalharei em sala nesse bimestre. Parabéns!!!

    ResponderExcluir
  11. E ainda perguntam: porque os et's não se manifestam? Imagina!

    ResponderExcluir
  12. Parabéns pela clareza do texto. Não tem choradeira nenhuma. É racismo e pronto...

    ResponderExcluir
  13. Adorei o texto e admito minha ignorância em não conhecer a história sobre a origem dessa comparação entre negros e macacos. Então eu penso: educação é tudo mesmo, somente com educação o respeito fará parte do dia a dia das pessoas.

    ResponderExcluir
  14. Adorei o texto!!! Realmente o caminho para o fim do racismo, ou de qualquer tipo de preconceito, é a educação. Somente com educação o respeito fará parte do dia a dia das pessoas.

    ResponderExcluir
  15. se não adianta repetir que negros não são macacos, se não se vence a guerra seguindo este caminho; falar que todos os homens são macacos pareceu uma solução, pois junta racistas no mesmo grupo dos discriminados e os trava nas ações.

    ResponderExcluir
  16. Uau, você conseguiu escrever de maneira clara e objetiva algumas ideias que eu estava tentando formular. Parabéns, elucidador teu texto.

    ResponderExcluir
  17. Acredito que a desconstrução de um mito ou de uma crença se da na mudança de comportamento, de muito acontecer o comportamento atualiza a formas de crenças e valores. Este conceito se da para tudo, e é por isso que entendo que enquanto reforçarmos que não se deve comparar um humano com um macaco, pois é insulto, não se muda o cenário. Quando o pesquisador afirma que a escola não fez bem seu papel, concordo plenamente, ela não propôs a atualização da ideia, e o texto continua na mesma linha afirmando que é um insulto !

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Camila, sim entendo seu ponto de vista e devo confessor que faz sentido, mas com certeza é um tópico para uma boa discussão em sala de aula depois de uma leitura de vários textos (rsrsrs). Obrigado pelo seu comentário e vou tentar responder, muito embora nosso texto não objetivava adentrar em tal discussão.

      Sobre a questão dos mitos, sim, creio que alguns podem ser reconstruídos, e acredito que mais facilmente em uma sociedade igualitária. No caso do racismo, aceitar termos como “macaco” acredito ser bem mais complicado, pois seu significado ofensivo continua sendo basicamente o mesmo, e é por isso que ele é usado com o único objetivo: “ofender”. Caso ele não ofendesse, ele não seria usado com este objetivo.
      Por isso, quando você diz, “Acredito que a desconstrução de um mito ou de uma crença se dá na mudança de comportamento”, eu também acredito no mesmo processo, e por isso acho que as pessoas deveriam parar de chamar negros de macacos (a mudança de comportamento que você sugere). Seria altamente injusto impor ao negro que mais uma vez ele tenha que se “conformar” ao status quo secular que já provou não ser nada eficaz para ele, e daí aceitar insultos pelo simples fato de ser muito difícil para quem sempre esteve em uma posição dominante mudar a sua forma de ver o mundo—por quê pedir isso? Isto é… Gente… é um insulto! Na verdade parar de ofender seria bem mais fácil emocionalmente do quê se “acostumar” ou “continuar” a ser ofendido.

      Outra afirmação sua é, “enquanto reforçarmos que não se deve comparar um humano com um macaco, pois é insulto, não se muda o cenário”. Esta é uma afirmação errônea tanto em teoria quanto na prática. De fato não muitas pessoas (em termos proporção da população total) que parecem “gostar” de usar o termo como ofensa, uso o qual não é bem visto por grande parte da sociedade, além do fato de que o uso deste “insulto” destoar do sistema legal de direitos presentes na sociedade brasileira atual. Ou seja, se uma lei diz que é proibido roubar e alguém rouba, esta pessoa é legalmente responsável por seus atos. Da mesma forma, racismo é crime, e quem usa tal termo está, queira ou não, cometendo um crime. Na verdade, termos como “macaco” são evidências legais para caracterização de tal crime, são provas legais de um ato ilegal, um ato inconstitucional. O problema aqui então é do sistema jurídico legal.

      Então, a escola não cumpre com seu papel não somente quando não se aprofunda na história do pensamento humano (filosofia), mas também quando não fornece ao indivíduo o conhecimento sobre as linhas centrais que estabelecem os limites para o convívio social: direitos, cidadania, história dos movimentos sociais no mundo, e por aí vai.

      Uau, cansei! De novo, Camila, valeu o comentário!

      Excluir
  18. Muito bom!
    Gostei muito da objetividade do texto, para bom entendedor meia palavra basta.

    ResponderExcluir
  19. Muito bem colocado a Questão da comparação dos Negros a Macacos, sou Jovem e muita gente deveria ter acesso a esse texto.

    ResponderExcluir
  20. Teve um tempo (que dura até hoje.sic) que a onda BRANQUEAR a raça negra; agora o mercado que macaquear todos os negros...
    Realmente este logo, não me representa NÃOOOOO!
    Fora qualquer garoto/a propaganda a serviço da mídia funesta e demagógica...

    ResponderExcluir
  21. Antes de mais nada – Concordo! Mas solicito ajuda para entender algumas situações peculiares, vejamos os movimentos:
    1- Os Pigmeus africanos sofrem preconceito e opressão de outros grupos étnicos Africanos, principalmente o canibalismo dos Bantos;
    2- Sendo assim alguns países tornaram os Pigmeus uma “curiosidade turística” convertendo-os em patrimônio nacional;
    3- Para isso eles são monitorados e proibidos de exceder as fronteiras demarcadas como suas reservas.
    Não é assim que os governos mundiais se comportam para proteger animais raros?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Drakomanth,
      Muito interessante o seu comentário, e devo confessar que não tenho conhecimento, no momento, sobre a atual situação dos Pigmeus e suas relação com outras etnias que com eles dividem território. O exemplo específico usado na nossa postagem tentou exemplificar a visão da cultura ocidental sobre os africanos ainda no momento em que vigorava as teorias e tratados raciais que pregavam a inferioridade intelectual do negro (que não consideravam o tempo como regulador de evolução tecnológica, mas sim e somente a capabilidade intelectual que era vista como estática).

      Mas considerando as informações que você apresenta, que são extrememante interessantes, talvez nos revele que divisões de classes, grupos, castas, famílias etc., estiveram e estão presentes em várias das civilizações humanas, o que, em contrapartida, levou e leva vários destes grupos a uma mobilização de liberação e de separação. Hoje estes são mais conhecidos como ‘movimentos sociais’ que buscam “integração” dentro das sociedade democráticas em que se encontram.

      Também hoje, a proteção de grupos que se encontram em diferentes estágios de desenvolvimento tecnológico acabam passando por medidas protetivas, como ainda aqueles bem poucos grupos existentes com nenhum ou muito pouco contato com o mundo industrial—como algumas tribos da Amazônia, por exemplo. Evidentemente, podemos questionar a validade destes tipos de medidas (como você o fez quando pergunta, “Não é assim que os governos mundiais se comportam para proteger animais raros?”, principalmente quando estas usam estratégias de capitalização cultural através do turismo, algo que esteve em voga no início deste século dentro das discussões das teorias de desenvolvimento econômico através da cultura, que foi denomindado de “desenvolvimento cultural”, e que esteve presente em várias partes do mundo e não somente no continente africano. A pergunta então seria, quais as alternativas viáveis hoje em dia? O seriado Star Trek Voyager teve um episódio que levantava esta questão, demonstrando que esta é uma discussão também presente na cultura pop.

      Dentro dos questionamentos sobre este tipo de desenvolvimento econômico, pelo pouco que me lembro no momento, questionava-se fato de se usar grupos étnicos que estavam fora (ou excluídos) da política de desenvolvimento econômico de nações do “terceiro mundo”, ou do “mundo em desenvolvimento”, como puro entretenimento turísticos para cidadãos ricos do “primeiro mundo”. Outros grupos mais “malandriados” dentro de uma dessas nações, chegaram a construir típicas vilas com costumes antigos e pré industriais, e quando os turistas iam embora, esses indivíduos retornavam as suas verdadeiras casas para assistir televisão e viver suas realidades.

      A analogia usada na sua pergunta, “animais raros” pode ser também encontrada nas críticas feitas sobre o turismo realizado hoje em dia dentro de algumas favelas do Rio de Janeiro que utiliza um Jeep bem estilo daqueles usados nos safaris africanos—acho que o grupo a Porta dos Fundos tem um vídeo muito interessante sobre isto.

      Obrigado pelo comentário.

      Excluir
  22. Excelente texto cara, sem mais! #SOMOSTODOSAFRICA

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pra VC que ama tanto a porra da tua Africa, vou te esclarecer apenas de alguns absurdos que ocorrem naquele lindo lugar: os degenerados na Nigéria sequestram e vendem meninas por 30 dólares para serem escravas sexuais nos países vizinhos, alguns países lá usam o estupro e a disseminação da aids como arma de guerra contra seu próprio povo, em muitas aldeias e províncias é pratica comum Negrões adultos e bem dotados praticarem sexo com meninas de 7 anos(será que não foi daí que veio esse negócio de comer as novinhas que os merdas do funk cantam no seu lixo em forma de música?). Tai o nosso mundialmente famoso "rei do futebol" que não me deixa mentir que acaso alguém não se lembre, alguns anos atrás depois de ter deflorado uma menina menor de idade, pagou uma cirurgia de reconstrução de hímen nos Estados Unidos e calou a boca da familia dela com dinheiro. Portanto, esse discurso de racismo nessa merda de país onde vivemos é raso, inconsistente, demagogo, oportunista e muitos estão lucrando e muito com ele.

      Excluir
  23. Excelente seu texto, muito bom, ótima reflexão! #SOMOSTODOSÁFRICA #NEGRONÃOÉMACACO

    ResponderExcluir
  24. Parabéns pelo texto. Muito elucidativo; além de incitar a "Vergonha Alheia", que se deve ter, daquele que lança mão de expressões que acabam por ferir a estima de outrem.

    ResponderExcluir
  25. Parabéns pelo texto. Sempre entendi a comparação de negros com macacos como uma afirmação de que os negros são primatas e que se perderam no caminho para a evolução. Mas pelo meu conhecimento limitado e superficial eu não entendia a profundidade em torno do tema. Seu texto foi muito esclarecedor e critico no que diz respeito a sociedade. Parabéns. Espero que isso ajude a acabar com a corrente que vem circulando pela internet de que somos todos macacos.

    ResponderExcluir
  26. Só acho importante reforçar que "reinforçar" não existe. No mais, perfeito.

    ResponderExcluir
  27. muito bacana seu texto ,reflexivo tá add nos favoritos.

    ResponderExcluir
  28. Excelente texto! Nos promove o esclarecimento da preconceituosa relação criada entre negros e macacos. Parabéns!

    ResponderExcluir
  29. Brilhante ! uma matéria tão importante, e que diga-se de passagem, não vi em nenhum outro lugar, poderia ser passada nas escolas desde o ensino fundamental, sou classificado como branco, mas as pessoas e melhores amigos que conheci são negros, e tenho orgulho disso !

    ResponderExcluir
  30. o negro não é macaco!
    o negro decende dos macacos!

    ResponderExcluir
  31. Eu sempre fiquei na dúvida: por que chamar um negro de macaco é ofensivo e chamar uma pessoa de gato é elogio sendo que ambos são animais? Não era para os dois serem ofensivos já que ambos tem a inteligência inferior a de um ser humano? Agora, graças a esse texto, vi que é ofensivo devido a sua origem. Valeu pelo texto, talvez, eu nunca ficasse sabendo.

    ResponderExcluir
  32. porque as pessoas sentem-se ofendidas quando comparadas a animais inteligentes e uteis como macaco,vaca,cachorro,burro,zebra e sente-se orgulhosos quando comparados a animais ferozes como pantera,leão,gato,onça entre outros tem uma estoria para cada um deles!!!!!

    ResponderExcluir

('Trollagens' e comentários desrespeitosos e ofensivos não serão publicados):