Fernando Se Foi, Mas Deixa Um Rico Legado À Música Brasileira

Os parceiros musicais Milton Nascimento e Fernando Brant. (Imagem: Reprodução/Internet)

Advogado, político, e acima de tudo letrista, grande poeta, Fernando Brant se foi após um bom tempo nos presenteando com algumas pérolas da música brasileira. Fernando faleceu na última sexta-feira aos 68 anos de idade em Minas Gerais, devido a complicação de um transplante de fígado.

Em 2012, Jorge Sanglard disse que Fernando era “Mais que um ‘escritor de canções’, uma pessoa que descobre as palavras que devem se casar com a música” (). Suas composições marcaram profundamente algumas gerações de brasileiros, e são exemplos de que o Brasil é um país de excelência em música, e letra.

Principal letrista das músicas de Milton Nascimento, a parceria dos dois rendeu mais de 200 canções, dentre as quais várias se tornaram clássicos da MPB, como Travessia, Maria Maria, e Canção da América. Juntos eles também foram responsáveis por trilhas sonoras para o cinema e para o teatro. Com Milton e vários outros talentosos nomes da música brasileira e do som de Minas Gerais, Fernando Brant também era um dos membros do “Clube da Esquina”.

A parceria com Milton Nascimento gerou a clássica trilha do também clássico espetáculo “Maria Maria” do grupo de dança “Corpo”, que estreou em 1976 e foi sucesso no Brasil, na América Latina e na Europa. Fernando Brant foi responsável pelas letras das canções daquele projeto (algumas hoje inesquecíveis, como “Maria Maria”) e também pelo roteiro—com exceção do texto “Eu sou uma preta velha aqui sentada ao sol”, de Sérgio Sant’Anna.

Dentre as várias, em homenagem ao seu legado, selecionamos as nossas 5 favoritas de Fernando Brant.

5. Sedução, Milton N. & Fernando Brant
Abaixo uma versão de Sedução com Fafá de Belém, Milton Nascimento e Nana Caymmi. Esta versão é parte da trilha do espetáculo de dança “Maria Maria” do Grupo Corpo gravada em 1976 e só lançado em 2002 no disco “Maria Maria – O Último Trem – Ballets Para o Grupo Corpo”.



4. Escravos Jó, Milton N. & Fernando Brant
A canção também fez parte do espetáculo “Maria Maria” e também do disco “Maria Maria – O Último Trem – Ballets Para o Grupo Corpo”. A batida Afro desta “música de trabalho”, certamente facilitaria uma versão dançante. Abaixo, uma versão House Music por Kerri Chandler e Joe Clausell de 1997, um remix da versão de Dom Um Romão contida no seu fenomenal disco Hotmosphere, de 1976.



3. Manuel, O Audaz, Toninho Horta & Fernando Brant
Diz a lenda que Toninho Horta compôs a música para o seu Jipe (um Land Rover 1951) que foi batizado de ‘Manuel’—homenagem ao personagem de Guimarães Rosa, ‘Manuelzão’, do romance “Grandes Sertões: Veredas”. É também dito que o Jipe levava a turma do Clube da Esquina para todo o lado, e por isso é considerado um hino dos jipeiros. Mas Manuel, O Audaz bem poderia ser um hino para qualquer viajante, pois a melodia parece te levar a uma tranquila viagem.

A versão original da canção foi gravada em 1973 por Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta. Depois foi regravada em uma lindíssima versão instrumental no disco solo de Toninho Horta de 1981. Abaixo a versão de Zé Renato do seu disco “Ponto de Encontro” de 1992, que conta com as participações do cantor argentino Litto Nebbie e do guitarrista também argentino Victor Biglione.



2. Diana, Toninho Horta & Fernando Brant
Outro exemplo de um tema colhido do dia-a-dia dos dois autores. Neste caso, a canção foi composta como homenagem a uma cachorrinha chamada “Diana”, que faleceu.

A canção foi gravada por Toninho Horta em seu LP independente “Terra dos Pássaros”, em 1980. Mas foi através da versão do grupo vocal Boca Livre, em seu disco de estreia de 1979, que “Diana” ficou nacionalmente conhecida.

No seu disco “Harmonia e Vozes”, de 2010, Toninho Horta regravou a canção com a participação de Ivete Sangalo.



1. O Que Foi Feito Devera (De Vera), Milton Nascimento & Fernando Brant & Márcio Borges

Uma estória é contada sobre o processo de criação desta canção. O Blog Tagarelices relata que Milton Nascimento enviou a música para Márcio Borges e Fernando Brant, “sem que um soubesse da missão do outro, e pediu para que eles refletissem sobre o que havia sido feito ‘de vera’, ou seja, de verdade nos últimos anos”. O Blog continua:

“Era o ano de 1978, um momento de indefinição política no país, estávamos em processo de redemocratização, aos trancos e barrancos. A voz dos jovens, que sonhavam com um país livre da ditadura, voltava a ser ouvida. Era o prenúncio do fim da ditadura. Portanto, havia muito o que refletir”.

Ao receber as duas letras para a mesma música, Milton notou que uma era a continuação da outra, e assim a canção se tornou O Que Foi Feito Devera, de Fernando Brant, e O Que Foi Feito Devera (De Vera), de Márcio Borges—que fez referência ao antigo nome do Brasil, “Vera Cruz”.

A música foi gravada por Milton em 1978 no disco “Clube da Esquina 2”, com a participação de Elis Regina, Gonzaguinha e Lô Borges.



Fernando Brant se vai deixando-nos o exemplo perfeito da união de letra e música—e de que uma boa letra é simplesmente fundamental para tornar uma canção em uma “boa e eterna canção”.

c&p

Fonte: Em; Café Brasil; Uai; Matéria Incógnita; Enciclopédia de Minas.

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