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“Tome a produção de grãos como elo fundamental e promova a agricultura em grande estilo”. Data de impressão: Janeiro de 1979. (Maopost.com). |
Como parte do projeto da nova China de Mao Tsé-Tung (1893-1976), as meninas dos tratores tornaram-se a imagem icônica da nova mulher chinesa.
Assim como o site
Maopost.com, que se dedica a apresentar uma variada coleção de posteres de propaganda política chinesa, o site “
Chineseposters: Chinese Posters Propaganda, Politics, History, Art” também agrupa posteres produzidos pelo governo Chinês pós Imperial. O Chineseposters apresenta algumas antigas tendências do governo comunista chinês feitas através da “propaganda” veiculadas por inúmeros posteres. Dentre os vários temas categorizados pelo site, os posteres da categoria
Tractor Girl (
A Menina do Trator), são bem interessantes. Um texto introdutório é apresentado pelo site:
“Desde do início da década de 1950s, o tema ‘mulheres motoristas de trator’ foi um dos mais frequentes símbolos da modernidade da China socialista. Conhecidas como as
nüjie diyi (女界第一), ou ‘mulheres em primeiro lugar’, estas trabalhadoras modelo foram parte de um grupo de ‘primeiras’ mulheres a serem treinadas para trabalhar com maquinária pesada. Liang Jun (imagem abaixo), uma das primeiras motoristas de tratores femininas da China, foi apresentada para o público chinês em 1953 em posteres,
antologias e textos escolares. Ela até mesmo apareceu na cédula de 1
yuan emitida em 1962”.
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Liang Jun, uma das primeiras mulheres motoristas de trator. Data: Início dos anos 50. (Chineseposters.net) |
O estabelecimento da República da China em 1912 terminou com mais de dois mil anos de um regime imperial na China. No entanto esta nova república criou uma China fragmentada por vários conflitos internos e depois externos, principalmente a segunda guerra sino-japonesa (1937-1945), parte da 2a Guerra Mundial. Esta guerra contra o Japão levou o Kuomintang, partido da República da China, a uma aliança com os comunistas, e com o auxílio da invasão soviética em agosto de 1945, a China emergiu vitoriosa. Mas os conflitos entre membros do Kuomintang e os comunistas levou a China para mais um conflito civil em 1947. Esta nova guerra civil terminou em 1949 e levou o partido comunista a tomar o controle sobre a China continental e, o Kuomintang teve seu território reduzido para apenas Taiwan, Hainan e suas ilhas vizinhas. E foi em 1 de outubro de 1949 que Mao Tsé-Tung proclamou a criação da República Popular da China, aumentando o seu território recapturando Hainan da República da China e ocupando o Tibete. Em 1966, complementando o Regime Comunista, Mao deu início a conhecida Revolução Cultural.
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“Um ano de safra abundante”. Data de impressão: 1978. (Maopost.com) |
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“Uma nova motorista de trator”. Data de impressão: Dezembro de 1964. (Maopost.com) |
“obviamente, a ‘nova mulher’ nos posteres de propaganda se localizava na classe trabalhadora e bem próxima ao equipamento de trabalho. Ela já não era meramente a menina do campo (农村姑娘, nongcun guniang) mas havia se tornado uma mulher-trabalhadora (劳动妇女, laodong funü) tomando parte no processo de treinamento e domínio do maquinário. Ela representou o grupo dos novos membros da sociedade que se proletarizou e quebrou com o confinamento do trabalho doméstico”. (A Menina do Trator, Chineseposters)
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“O time de motoristas de trator”. Data de impressão: Julho de 1965. (Maopost.com) |
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“O sol nascente”. Data de impressão: Outubro de 1971. (Maopost.com) |
Assim como as relações familiares, o papel da mulher na China Imperial, até o início do século 20, era regido pelos ensinamentos do
Confucionismo, a religião e filosofia criada por Confúcio (551 a.C.-479 a.C.) e seus seguidores, e que se tornou doutrina oficial da China de 136 a.C. até 1912. Segundo Cara Abraham no artigo
Women's Roles in China (“Os Papéis das Mulheres na China”), estes ensinamentos colocavam o homem como centro da sociedade e, em contrapartida, a mulher era considerada inferior. A autora diz que o Confucionismo regia as “relações entre o marido e sua esposa e concubinas, entre o pai e seus filhos, e entre os filhos mais velhos e os mais novos. Casamentos, nascimentos, e mortes eram acompanhados por rituais elaborados para reforçar estes papéis desiguais mas que se apoiavam mutuamente.” Os casamentos eram arranjados, negociados para o “benefício de ambas as famílias, frequentemente sem o prévio conhecimento ou consentimento da noiva ou do noivo”.
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“Trabalho Glorioso, vida feliz”. Data de impressão: Fevereiro de 1960. (Maopost.com) |
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“Motorista de trator feminina”. Data de impressão: Outubro de 1964. (Maopost.com) |
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“Imagem estrutural do trator ‘Harvest-35’”. Data de impressão: Por volta de 1975. (Maopost.com) |
Cara Abraham continua dizendo que o status social da mulher era estabelecido já no momento de seu nascimento. Filhos homens eram muito valorizados “não somente pela habilidade física e econômica de contribuição às famílias, mas também por carregar o nome da família. Também, somente um filho homem poderia sustentar os pais idosos e venerar devidamente os seus ancestrais. As filhas eram consideradas uma ‘pequena felicidade’ porque elas ao se casarem tornavam-se parte de outras famílias.
E para tornar uma filha o mais desejável possível a um futuro pretendente, seus pés eram quebrados, atados e enfaixados para que ficassem pequenos (7 a 8 centímetros aproximadamente), tornando-os adequados apenas para cambalear ao redor da casa. Em épocas de escassez de alimentos, as filhas eram as últimas a serem alimentadas, e meninas recém-nascidas eram asfixiadas. Ainda que estas ações severas fossem raras, elas ocorriam e deixaram um legado permanente de discriminação contra as mulheres”.
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“Refresque-se no meu jardim de melancias”. Junho de 1963. (Maopost.com) |
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“As flores da montanha lançam seu brilho vermelho sobre as novas mulheres”. Artista: Zhao Minsheng; Outubro de 1974. (Chineseposters.net) |
Um dos efeitos mais profundos do regime comunista na China, e a subsequente Revolução Cultural, foi o rompimento com bem antigas tradições culturais. O Partido Comunista implementou uma drástica transformação social para a população feminina que tentava mudar o papel da mulher na sociedade. Jing Lin em seu artigo
Chinese Women Under the Economic Reform: Gains Losses (“Mulheres Chinesas Sob As Reformas Econômicas: Ganhos e Perdas”) diz que quando a República Popular da China foi fundada em 1949, o governo comunista testou um projeto bem ambicioso: a total liberação das mulheres chinesas. Desde então, segundo Lin, as “mulheres chinesas se tornaram participantes integrais na arena social e econômica fazendo incursões em muitos campos considerados tradicionalmente masculinos”, mesmo que hoje a jornada para a total igualdade com os homens ainda não tenha terminado.
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“Todos para fora e rapidamente ao trabalho para garantir uma colheita abundante. Acolham entusiasticamente o grande salto adiante”. Data de impressão: Abril de 1975. (Maopost.com) |
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“Feliz por comprar um touro de ferro”. Artista: Hu Daosheng; Agosto de 1975. (Chineseposters.net) |
“O fato de que as meninas dos tratores frequentemente vestiam camisas brancas, fortalecia a mensagem que elas haviam se juntado ao proletariado. A camisa branca, com a sua conotação de educação, apoiava o ideal do trabalhador comunista desenvolvido e especializado. Mesmo quando a menina do trator se situava enquanto trabalhadora do campo, a camisa branca sugeria o conhecimento externo que ajudava a melhorar a eficiência no trabalho”. (A Menina do Trator, Chineseposters)
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“A luta para acelerar a implementação da mecanização agrícola”. Revolutionary Committee of Beijing No. 76 Middle School; Dezembro de 1971. (Maopost.com; Chineseposters.net)
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“A segurança excede a cota das tarefas de carregamento e de descarregamento”. Data de impressão: Abril de 1956. (Maopost.com) |
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“1950, Lei do Casamento (mulheres ganharam liberdade de casamento e divórcio pela primeira vez); 1950, Reforma Agrária/Propriedade (mulheres recebem o direito de ter propriedades e terras); 1953, Mulheres ganham o direito de voto; 1958, 7 milhões de mulheres com empregos, dez vezes mais do que em 1949, com igualdade salarial; 1966, Rápido crescimento no número de mulheres líderes no governo e mulheres trabalhadoras”.
(Wang Ping, Women In Modern China: From Iron Maiden to Super Model, “Mulheres na China Moderna: De Damas de Ferro a Super Modelos”)
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“Aumente a velocidade da mecanização agrícola para a luta pela modernização da agricultura”. Artista: Liu Wenxi; Dezembro de 1975. (Chineseposters.net) |
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“Lutando lado a lado: Nós somos ambas concorrentes e amigas em uma competição”. Data de impressão: Novembro de 1959. (Maopost.com) |
“Na China, assim como na Rússia, a mudança para um governo comunista trouxe muitos direitos para as mulheres. A Federação das Mulheres Chinesas, agência criada pelo governo comunista, que promoveu o direito das mulheres através da reforma da ideia sobre terras e casamento. Além disso, as mulheres também tomaram parte nos ambientes dominados pelos homens, como o ambiente militar, e usaram cabelo curto e vestiram roupas masculinas. O direitos que as mulheres conquistaram durante este período foram completamente contra os tradicionais valores patriarcais confucionistas que a sociedade chinesa possuía no passado. Como resultado, muitos dos valores morais foram perdidos, e houve um aumento da violência contra as mulheres. Ainda, esta diminuição de valores morais, e o desejo tradicional por herdeiros masculinos, combinados com a nova política comunista ‘Um Só Filho’ [instaurada em 1979], levou ao aumento do infanticídio feminino e à diminuição da população feminina na China”.
(AP World Class Weebly “Revolutions: The effect on women”)
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“O mundo está repleto com um novo crescimento na primavera, e as mulheres estão assumindo a sua metade dos céus”. Data de impressão: 1976. (Maopost.com) |
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“Revolução técnica e cultural”. Data de impressão: Junho de 1958. (Maopost.com) |
“As imagens de mulheres operando tratores tornaram algumas coisas bem claras: uma mulher deveria tomar parte no processo de produção, seja na fábrica ou na agricultura, e assim o fazendo, ela não deveria ser excluída do manuseio da maquinária pesada. Além disso, as imagens colocaram, de forma firme, a mulher no proletariado. E, finalmente, as imagens dos posteres indicaram que as posições de liderança deveriam estar abertas às mulheres assim como aos homens. Entretanto, na realidade e na prática, isto permaneceu em grande parte como uma utopia”. (A Menina do Trator, Chineseposters)
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“Promovendo vigorosamente a criação de porcos”. Artista: Ye Wulin; Julho de 1977. (Maopost.com) |
Um artigo de maio deste ano na revista
The Economist, faz uma leitura do livro ‘Leftover Women: The Resurgence of Gender Inequality in China” (“As Mulheres Restos [ou 'as mulheres que sobraram']: O Ressurgimento da Inequalidade de Gênero na China”) da jornalista/acadêmica Leta Hong Fincher. Segundo o artigo, a autora argumenta “que o mesmo partido que trabalhou na elevação do status das mulheres em 1950, agora tenta maquinar o retorno das mulheres à cozinha. A nova campanha parece estar funcionando. Em 1990 os salários das mulheres urbanas compreendiam 78% do salário dos homens. Em 2010, o mesmo salário diminuiu para 67%. A taxa de emprego das mulheres urbanas também caiu, de 77% em 1990 para 61% em 2010”.
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“O campo é um mundo vasto”. Data de impressão: Novembro de 1973. (Maopost.com) |
As mulheres da China ainda encontram adversidades sociais, e hoje elas sofrem um novo estigma que, ironicamente, nasce da independência que elas conquistaram. Nesta regressão dos valores culturais das mulheres na China, um fator interessante é o retorno do tema “casamento”. A mesma resenha do livro “As Mulheres Restos” da revista The Economist informa como a questão vem sendo tratada pela mídia:
“Em 2007 a agência oficial de notícias de Xinhua publicou um comentário sobre as mulheres com 27 anos de idade que ainda não haviam se casado sob o título
Oito Atitudes Simples Para Escapar da Armadilha de Se Tornar Uma Mulher Que Sobrou. O Partido Comunista concluiu que as jovens chinesas estavam se tornando muito exigentes e estavam concentradas demais na obtenção dos ‘três alto níveis’: alto nível de educação, de status profissional e de salário. Desde então, jornais também vem imprimindo editoriais similares. Em 2011 um deles disse: “A tragédia é que elas não se dão conta que, ao envelhecerem, as mulheres valem menos e menos e por isso no momento em que elas terminam os seus mestrados e doutorados elas já estão velhas, feito pérolas amareladas”.
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“Corajosamente seguindo em frente pelo caminho revolucionário”. Data de impressão: Maio de 1965. (Maopost.com) |
A resenha do livro “As Mulheres Restos” da revista The Economist termina dizendo: “Comparadas às mulheres da maioria dos países em desenvolvimento, as mulheres chinesas ainda estão muito bem. Mesmo comparadas com a Coreia e com o Japão, em muitas áreas da sociedade o status e as participação das chinesas são altos. E há sinais de que elas estão reagindo. Determinadas a não serem novamente subjugadas, algumas delas estão usando uma palavra chinesa que soa como ‘resto, ou sobra’ mas que significa ‘triunfante’, para se descreverem e para também defender a decisão de permanecerem solteiras”.
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“O trator no campo”. Data de impressão: Outubro de 1963. (Maopost.com) |
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“Apoie vigorosamente a agricultura”. Data de impressão: Dezembro de 1975. (Maopost.com) |
“Assim como na indústria e na agricultura, a operação dos tratores e outros equipamento mecanizados permaneceram sob o domínio dos trabalhadores masculinos. Mulheres estavam confinadas à operação das máquinas usadas no plantio, debulha e descasca de arroz, e às máquinas das fábricas de materiais têxteis. A urgência pela qual a participação feminina na mecanização foi inicialmente representada deu lugar a uma realidade idealizada, onde as mulheres operavam as máquinas não essenciais”. (A Menina do Trator, Chineseposters)
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“Implementar resolutamente a política de total conservação de água—Combinar o uso de equipamentos eletromecânicos para o bombeamento de água para irrigação com os reservatórios de água”. Data de impressão: Agosto de 1964. (Maopost.com) |
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“Nossa motorista de trator”. Data de impressão: Setembro de 1964. (Maopost.com)
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Talvez seja difícil afirmar que o comunismo seja bom ou seja ruim para as mulheres. Entretanto, o caso da China mostra que a vida das mulheres foi transformada através de uma drástica mudança política e cultural que reraram melhorias sociais profundas aquela população. Contudo, desde a reforma econômica dos anos 80, a mulher chinesa vem correndo o risco de retornar à posição de inferioridade cultural.
c&p
Fonte: “Pick and choose: Why women’s rights in China are regressing”, The Economist; wikipédia; Jessica Fulton, “Holding up Half the Heavens: The Effect of Communist Rule on China's Women”.
muito boa postagem...
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