Audiência da TV Aberta Cai: A Culpa é da Internet?


“Na década de 1960, a empresa Sony lançou o seu televisor portátil. Uma das primeiras propagandas deste produto, difundidas nos EUA, é reproduzida abaixo. Nela afirmava-se: Segure o futuro em suas mãos com Sony. No contexto da matéria publicitária, pode-se afirmar que: a) os valores e os comportamentos sociais foram, ao longo da história da humanidade, afetados pelos meios de comunicação de massa; b) o controle social exercido sobre a técnica impede que esta altere a nossa percepção do mundo; c) as sociedades industrializadas contemporâneas libertaramse da dependência da tecnologia e de seus produtos; d) as inovações no campo da comunicação aceleraram-se a ponto de alterar a nossa relação com o tempo e o espaço; e) graças aos programas sociais, foi possível assegurar um patamar tecnológico mínimo a todos os seres humanos”. Questão do vestibular da Universidade Federal de Mato Grosso-UFMT. (Imagem e texto: Reprodução/Internet, Geografia Para Todos)
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Quando a televisão surgiu no mercado nos anos 40, o rádio pensou que morreria. Entretanto, ele sobreviveu sendo forçado a adaptar-se às novas tecnologias. O mais importante é que o rádio ainda hoje preenche um vácuo que a televisão não poderia preencher. Este fato nos sugere que a televisão talvez não morra pelo surgimento da Internet. Bem, a não ser que ela se recuse a se adaptar a uma nova realidade. Na verdade, esta crise pode ser algo muito bom para a TV brasileira, e para os brasileiros.

Recentes dados mostram que a audiência da TV aberta está caindo. Com isso, a Internet vem sendo descrita como a principal culpada por esta queda de público. Certamente, outros fatores também devem ser contabilizados, principalmente a enorme falta de criatividade e ousadia que cria uma mesmice contínua na telinha. E nem mesmo o excesso de nudez e referências sexuais poderiam ser considerados uma estratégia de criatividade ou mesmo de ousadia para garantir audiência, pois nudez e sexo são hoje “lugar comum” na televisão brasileira.

Não é de hoje que o público do entretenimento e notícias vem se multifacetado passando de um veículo de mídia a outro veículo de mídia com muita rapidez, e até utilizando mais de um desses veículos ao mesmo tempo. Esta é uma tendência internacional. Por isso, um determinado programa de televisão tem que ser muito bom, acima da média, ou apenas interessante, para segurar a atenção do telespectador. E como a Rede Globo é, ou já foi, quase sinônimo de TV aberta no Brasil, observando sua programação e a sua queda de audiência ajuda a criar uma visão mais ampla da crise de público que vem sofrendo a TV brasileira em um todo.

Um artigo sobre a audiência dominical da TV aberta publicada na Folha de São Paulo em março deste ano, traçou a recepção de público do programa de auditório do apresentador Fausto Silva, conhecido como Faustão, transmitido pela Rede Globo. O artigo da jornalista Keila Jimenez argumenta que através de uma observação dos índices de audiência do “Domingão do Faustão”, o líder no horário das tardes de domingo, é possível constatar uma “fuga de público da TV aberta”. “Em 2001 e 2002, o ‘Domingão’ chegou a alcançar média de 23,2 pontos”, mas o “Faustão perdeu cerca de 30% de seu público e registra em 2014 média de 15,3 pontos”, diz Keila.

O último exemplo de um, digamos, inassistível Faustão ocorreu no dia 20 de abril deste ano, quando o apresentador chamou os cabelos crespos de uma bailarina da cantora Anitta, que se apresentava no programa, de “cabelos de vassoura de bruxa”. Sem muitas pesquisas de mercado e análises dos gostos e gastos das classes sociais—incluindo uma prolongada perda de tempo com análises sobre a nova classe média—, é possível afirmar sem delongas e de maneira popular que, com essa atitude, Fausto Silva “queimou seu filme” (pelo menos para uma parcela da população, ou seja, menos uns pontinhos no Ibope).

Faustão comendo (vendendo) biscoito. (Imagem: Reprodução/Internet, Morri de Sunga Branca)

Por menos à favor da raça negra e/ou de seu respectivo cabelo que algum telespectador possa vir a ser, sempre caberá a proposição de que o Faustão não deveria questionar o visual alheio: Com aquela sua estampa, como o Faustão poderia julgar negativamente qualquer parte do corpo de alguém? Mesmo que o Fautão fosse o sinônimo de beleza e, independentemente do seu comentário ter afetado todo um grupo racial, todos aqueles que ainda possuem um pouco de lucidez sabem que não é de bom tom dizer algo negativo sobre a aparência de uma mulher em rede nacional de televisão. Principalmente do seu cabelo!—questão puramente de etiqueta. Talvez o comentário infeliz tenha sido somente um excesso de irreverência?

E se alguém deixar de assistir o Domingão do Faustão por esta e outras gafes, a culpa ainda será da Internet?

O super e exagerado apreço à ironia e à irreverência que vem invadindo a televisão brasileira atualmente, tem deixado um gosto amargo em muitas bocas. Tal tipo de conduta parecia ser exclusiva dos jovens (digamos adolescentes e não estritamente a faixa de 15 a 29 anos como estabelece o Estatuto do Jovem), onde as teorias da psicologia que explicam o comportamento social deste grupo ainda podem dar conforto aqueles pais alarmados com a falta de educação e a falta de limites de seus filhos. Fora desta idade, irreverência ainda pode ser compreendida como “grosseria” ou como simples imaturidade.

Talvez estejam todos os programas chamados de “irreverentes” hoje no ar voltados exclusivamente para o público jovem. Se este for o caso, aqueles que se encontram fora desta faixa etária tem uma boa desculpa para buscarem na Internet, Netflix, ou TV fechada, algo mais adequado a eles. Ainda, o tom rude, violento, agressivo, e desrespeitoso presentes na televisão vem sendo apresentado como nova tendência de entretenimento que várias vezes podem ser facilmente confundidos como simples “mal gosto”. Alguns telespectadores podem não curtir esta famosa “irreverência” que fortemente se impõe nas grades de programação. (Menos alguns pontos no Ibope…)

(Imagem: Reprodução/Internet)

Mas a Rede Globo, soberana campeã de audiência por décadas, hoje enfrenta uma queda de audiência também em outros horários. A decadência da teledramaturgia é evidente, e é estranho ver as tramas das telenovelas mudando a partir de qualquer mínima crítica ou dos números negativos de audiência. Tentando agradar gregos e troianos esta técnica claramente afeta a ideia original do autor—técnica que não parece estar dando resultado. Uma matéria no portal da Folha de São Paulo de 4 de maio deste ano, escrito por Rafael Mendonça, nos fala sobre as novelas:

“Já faz um tempinho que novela na Globo era significado de sucesso de audiência. Com a chegada da TV por assinatura e até mesmo a mania dos videogames, a ‘toda poderosa’ nunca mais conseguiu repetir fortes números de audiência que tinha nos anos 1990. Se não bastasse a concorrência, as próprias produções da Globo não estão sendo feliz na hora de cativar seus telespectadores. Com raras exceções, as novelas estão perdendo credibilidade e nem aparecem mais entre os programas mais assistidos da emissora. Para você ter ideia, atualmente a única que figura no top 5 é ‘Em Família’, mas acredito que pelo fato de ser exibida no horário mais nobre da emissora. Apesar de ocupar a primeira colocação, a novela tem amargado o pior índice de audiência da história na faixa com média de 27,3 pontos, segundo levantamento feito pela Folha de São Paulo”.

Não totalmente surpreendente, os telejornais brasileiros também estão fracassando no quesito audiência. No dia 11 de abril deste ano, o Jornal Nacional, segundo a Folha de São Paulo bateu recorde negativo, pior média de sua história. O site Pragmatismo Político publicou um artigo de autoria de Paulo Nogueira que diz não ver na “ruindade técnica” do telejornal a razão primeira para o afastamento do público e chegar a 18% de audiência quando já teve uma média de 70%, mas que a “real causa se chama internet”.

O autor ainda afirma que a “internet é uma mídia que os analistas classificam como “‘disruptora’: ela não se integra às demais, como sempre aconteceu na história do jornalismo. Ela mata. As demais mídias—tevê aberta incluída—são progressivamente engolidas pela internet”. Ainda, o jornalista explica o motivo pessoal que o levou a não mais assistir o Jornal Nacional: “O meu foi o incômodo em ver tanto foco em desgraças depois de ter visto o JN, na ditadura, mostrar um país paradisíaco aos brasileiros. Isso contribui para a nostalgia de alguns inocentes pelos ‘bons tempos’ dos militares”.

Claramente, cada um terá um motivo para deixar de assistir o Jornal Nacional, e o dele (credibilidade) é realmente válido e adequado.

Mas a migração à Internet pode indicar que hoje finalmente há opções, e talvez por isso a “ruindade técnica” tenha sempre sido descontada (tolerada) pelo público simplesmente por nunca ter havido alternativas.

E é por isso que não foi somente o JN a levar um grande tombo. Dados do Ibope publicados também pelo site Pragmatismo Político em 19 de maio deste ano, revelam que a Rede Bandeirantes foi a que mais perdeu audiência nesses últimos tempos. Até mesmo o Jornal do SBT, que “antes com média de 4,7 pontos de audiência, o jornal tem, agora, segundo o Ibope, 4 pontos, o que representa uma queda de 4% desde janeiro.” Talvez por esta razão, Sílvio Santos tenha resolvido trazer os polêmicos comentários de Rachel Sheherazade de volta a partir de agosto, como revela a Revista Veja—assim como qualquer boa polêmica, o discurso do medo e do terror também geram Ibope—vis-à-vis lucro.

Somente o Jornal da Record não sofreu queda. Mas o mais significante nisto tudo é que o programa Cidade Alerta “comandando pelo jornalista Marcelo Resende, com notícias exclusivamente do campo policial, subiu de 5,9 pontos para 7,1 pontos”, ainda segundo a mesma matéria do Pragmatismo Político. O espetáculo da violência gera lucro…

(Imagem: Reprodução/Internet, Ettore Mabretti tumblr)

Na Internet, ironicamente, algumas das críticas ao atual telejornalismo recaíram sobre a forma pela qual este realiza as coberturas dos atuais e muitos conflitos urbanos quando este opta exclusivamente pelas versões das autoridades oficiais públicas governamentais. Como exemplo temos as últimas grandes manifestações populares, onde a maior parte da população concordou com a necessidade de cobrar do governo as mais que necessárias melhorias sociais e exigir o fim da corrupção—fator de vergonha nacional. Mas o telejornalismo, que de certa forma, também se posicionou a favor inicialmente, logo optou cobrir tais eventos exclusivamente oferecendo a definição do quê seria a “manifestação ideal” tentando construir o manual da forma correta de se manifestar.

E foi assim que os telejornais fizeram das palavras “pacífica” e “vandalismo” (e suas variantes), os dois termos mais usados do vocabulário português brasileiro dos últimos tempos.

Como se isto não fosse o suficiente, enquanto todos os manifestantes brasileiros são “vândalos”, os manifestantes quebra-quebra internacionais continuaram e continuam sendo denominados pelos mesmos telejornais como “manifestantes”—um tapa na cara dos nossos manifestantes brasileiros. Concordando ou não com as manifestações, esta inferiorização do “nacional” é humilhante, e até mesmo embaraçosa. (Menos vários pontos no Ibope…)

(Imagem: Reprodução/Internet)

Com esta ênfase única e exclusivamente “terminológica”, o jornalismo da TV brasileira deixou de lado a cobertura das inúmeras reivindicações feitas pelo povo e, mais importante, não procurou ouvir a classe política sobre tais reivindicações, deixando de investigar a validade das pautas dos “vândalos” assim como não se importaram em questionar sobre como os políticos tentariam cumprir com as demandas feitas por grande parte da população—dentro ou fora das manifestações. Esta foi a mesma estratégia usada para cobrir as manifestações de classes trabalhistas, como a dos profissionais de educação e a dos profissionais de limpeza pública no Rio de Janeiro, por exemplo. Será que estas duas classes profissionais compõem parte do público perdido pelos telejornais brasileiros?

Não é necessário citar as coberturas jornalísticas feitas sobre as áreas não-nobres das grandes cidades, ou as muitas outras não realizadas sobre as condições de vida nas áreas rurais. Talvez o jornalismo nacional se esqueça que manifestantes (e aqueles que concordam, total ou parcialmente com as manifestações) assim como os moradores de “favela” e bairros menos importantes, têm e assistem televisão.

Consequentemente, aqueles que não se sentem representados na tradicional mídia televisiva podem hoje achar esta representação em outro lugar—e incrivelmente, até mesmo “criar” tal representação. (Isto significa menos pontos no Ibope…)

A falta de representação de determinadas realidades nos direciona ao ângulo central de entendimento da debandada de público dos telejornais: Estes estão sofrendo uma “crise de credibilidade”, e por isso jornalistas também estão sendo expulsos dos mais variados tipos de manifestações populares. Tal crise já chegou ao mais baixo nível do absurdo, por exemplo, quando o JN exibiu há pouco tempo uma matéria sobre uma fonoaudióloga que ensinava como gritar a palavra “gol” durante a copa do mundo a uma paciente em um restaurante. É claro, a matéria virou piada na “maldita” Internet. Esqueça a imparcialidade jornalística, esta matéria seria melhor classificada como um exemplo de pura sacanagem. (Menos alguns pontos no Ibope…)

(Imagem: Reprodução/Internet)

Indiscutivelmente, nossa televisão não está em sintonia com a nossa sociedade, e parece intencionalmente se afastar das várias realidades atuais.

Neste contexto reside o interessante fato de que as séries produzidas pela TV aberta dos Estados Unidos continuam agradando bastante o público brasileiro. Olhando apenas uma delas, “Todo Mundo Odeia o Chris”, transmitida pela Rede Record, é um sucesso contando inclusive com algumas páginas no Facebook além de blogs e outros sites dedicados ao programa no Brasil. Tal programa é uma comédia que tem o elenco composto majoritariamente por atores negros, o quê indica que há um público sedento por uma real representação do Brasil na TV brasileira.

Não há negros na televisão brasileira como há na vida real—e com o mesmo efeito, também no cinema nacional. Faltam negros nas novelas, nos comerciais, e no telejornalismo. Seria esta ausência também culpa da Internet? (Menos pontos no Ibope…)

Esquece-se que a infraestrutura da Internet no Brasil é muito fraca, é pouca, é muito cara, ela é péssima; as companhias de telecomunicação no país estão marcadas pela ineficiência técnica. E por isso a Internet ainda não faz parte integral de toda a população brasileira assim como a TV o faz. Muita gente nem sabe como usá-la para além do Facebook.

O “monstro da Internet” conquista um público e a TV paga ganha força com uma programação variada, de boa qualidade técnica, e majoritariamente provinda dos EUA. Como no Brasil muito se copia da TV estadunidense, é válido lembrar que também a TV estadunidense enfrenta o mesmo dilema com a Internet. Mas além de lutar contra os grandes conglomerados de Banda Larga de comunicação, as redes de TV dos EUA, abertas e pagas, se posicionam com rigor quanto a qualidade técnica de produção da sua programação, onde a cada ano a lista de términos e cancelamentos bem como a lista de estreias de novos programas, nos espantam por serem bem longas.

Ou seja, a TV estadunidense encara a Internet como parte do processo de competitividade de mercado, um muito valorizado pilar da cultura capitalista. É por isso que, caso a TV aberta brasileira souber competir, algo muito bom pode surgir. Victor Melo, do blog PR Newswire, adequadamente reflete este momento:

“’Não sobrevive a espécie mais forte, mas a que se adapta à mudança’. – Existe uma contradição se essa frase foi ou não dita por Charles Darwin, mas certamente, poderia ter a autoria de qualquer empresário à frente de um conglomerado de comunicação dos dias atuais.”

Talvez a Internet venha a ser a melhor coisa que já aconteceu à TV brasileira, e por tabela, ao povo brasileiro: ela força a competitividade e, consequentemente, pode estimular uma onda de criatividade nunca antes vista no nosso país. Até hoje, tudo para a nossa televisão sempre foi muito fácil e tranquilo por nunca ter havido uma real competição de criatividade e originalidade—a clássica batalha entre Gugu Liberato e Faustão não conta, pois aquilo na verdade foi uma disputa entre duas versões da mesma coisa. O problema é que público de hoje nunca foi tão exigente e isso faz daquela velha batalha Gugu vs. Faustão parecer uma briguinha entre duas crianças de 3 anos disputando o mesmo brinquedo.

Agora a coisa é séria, ô meu. O quê realmente está sob ameaça é a hegemonia da comunicação, e por isso culpa-se a Internet.

Atualmente no mundo inteiro quem dita o quê é irreverente e original, ou não, também é a Internet e não somente a televisão. No Brasil, A TV aberta hoje se apropria do conteúdo do Youtube descaradamente e não reclama. E gente, pra quê Big Brother e alguns dos quadros do Pânico se tem muito pornô light bem melhor à disposição na imensidão da Internet?

No final das contas, a grande vítima desta estória toda ainda continua sendo o livro.

c&p

16 comentários:

  1. As programação da tv aberta últimamentes estão um lixos,uns apresentadores da televisão são péssimo,em tudo esta pessimos.

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    1. Vamos esperar que os produtores “acordem”, não é mesmo? Obrigado pelo comentário.

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  2. A TV aberta, entre raras exceções (e incluo nessa exceção a TV Cultura) só piorou sua programação desde que decidiram que a audiência das Classes C, D e E eram maiores, e por isso, deveriam rebaixar a qualidade para ficar no nível cultural dessas classes sociais. E isso não é preconceito, é a realidade.
    Agora, mesmo as classe C e D de hoje tendo mais acesso á conteúdo de qualidade, ainda assim preferem assistir esse "lixo cultural" que eles tem apresentado, principalmente aos domingos, onde tem a invasão de "conceitos culturais" como funk carioca, sensacionalismo, seminudez, etc., ou seja, aquilo que atrai hoje as classes mais baixas ainda da sociedade.
    E pelo andar da carruagem, conforme a população tem mais acesso á cultura de verdade, seja através da internet ou por opção própria em melhorar de vida, a TV aberta estará num declínio de qualidade e de visualização, e para o bem ou para o mal, esses canais abertos virarão apenas um complemento, uma distração e um catálogo do que há de pior em cultura, portanto, sendo irrelevante.
    Mas acabar, não acabará.

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    1. Oi Anônimo,
      Gostei do seu argumento; faz muito sentido.

      No entanto, quando você fala sobre as classes C, D, E…, podemos também argumentar que existe “aquilo” que as populações daquelas classes “gostam”, e “aquilo” que os produtores de televisão “supõem” (e passam acreditar) que estas classes sociais “gostam”.

      A televisão poderia ser um espaço de maior diversidade onde o “funk carioca” seria apresentado como uma das várias tendências culturais brasileiras. Transformar um só estilo cultural em tendência única de atração televisiva, sim, pode ser um problema—principalmente em relação a audiência de público. Devemos lembrar também que muitos das classes mais altas gostam de lixo; e por tanto gostar, também o produz. (Há “lixo” também na tv paga, e na Internet…).

      Devemos também lembrar que os termos “cultura de verdade” e “cultura de mentira” são totalmente equivocados por razões óbvias: Se uma manifestação cultural existe, ela existe. Simples. Cultura é cultura. Em um país como o Brasil, cultura pode (deve) ser “diversidade”. Viva o Balé, Viva a Música Axé; Viva o grfitti, Viva o Barroco Mineiro; Viva as Escolas de Samba, Viva a Ópera; Viva a MPB, Viva o Funk Carioca; e por aí vamos nós… diferente mas ainda muito iguais. (Imagina como seria chato viver em um mundo onde todos só escutassem ópera.)

      Achei muito interessante suas observações sobre qual seria o futuro da tv aberta. Vamos ver o quê acontecerá…
      Obrigado pelo comentário!

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  3. A tv aberta tem pessimos progamas. Encontro com fatima, mais você, vídeo show, novelas, jornais que não dão mais certo, humorísticos sem graça nenhuma, Afff... Não tem nenhum progama pro publico jovem (tinha a Mtv e a play tv nas parabolicas só que sairam). Animes e tokusatsus sairam da grade dos canais e nunca mais voltarão, progamas educativos só passam de madrugada (exemplo: telecursos), desenho animado é usado como tapa buraco (ex: tv globinho e festival de desenhos), só filme repetido e nenhum lançamento, informeciais xatos (ex: polishop e shop buy), nenhum progama de música, nenhum progama ESPECIAL, nenhum documentário, afff.. E ainda querem ter audiência com essas chatisses. Globo, record, sbt, band, rede tv!, tv gazeta, esporte interativo (todos esses canais NÃO PRESTAM).

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    1. Anônimo, não chegamos a abordar as várias programações ausentes da TV aberta. Obrigado pelos exemplos que você citou no seu comentário!

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  4. Gostei da materia.muito do que voce escreveu é verdade.se bem que,houve tempos em que a programaçao da tv era melhor.eu lembro que a globo produzia minisseries como "os maias" e programas infantis como "tv colosso".tambem acredito que a ascensao das classes C e D,fizeram a qualidade da programaçao decair muito e vejo que a programaçao nao vai melhorar tao cedo.por que isso vai depender muito do "gosto" dos telexpectadores.

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    1. Obrigado pelo seu comentário. Também lembro com nostalgia alguns grandes programas.
      No entanto, não acho justo culpar a ascenção das classes de trabalhadores como causa única da decadência pela qual passa a TV brasileira, já que quem produz a progamação de televisão é que tenta “adivinhar” o gosto do público dessas classes. Na verdade, essas classes que ascenderam já têm tv paga!
      A culpa da decadência da TV é dos produtores e programadores da TV e dizem que estão produzindo para um determinado grupo social.
      De novo, valeu o comentátio.

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  5. a televisão brasileira só vai melhorar quando o apocalipse pokemon chegar pra ficar,e o pop trovão virar a cachulepa ao contrario de forma prorporcional a virada do ed murphi......de peixe aff.

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    1. Nossa... Não tenho certeza se desejo esperar por este dia! rsrsrs

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  6. Além da migração para outras plataformas, outros fatores como horário de verão interferem diretamente na queda de audiência em determinado período do ano. Com os dias mais longos e mais claros devido à estação do ano, diminui significativamente o número de TVs ligadas nessa época do ano. Até mesmo em eventos pontuais devem ser levados em consideração. Dias com muito calor, afasta o telespectador de frente da TV e o coloca par fora de casa, assim como dias chuvosos o impedem de chegar em casa para assistir a determinado programa ou impede que ele saia de casa para ir a algum lugar. Parece secundário, mas não é bem assim.

    Em relação aos números, em 2004 a média-dia de audiência da Globo era de cerca de 20 pontos. Hoje é de 14. A Rede Record foi de 4 para 6 e o SBT de 7 para 5. Porém SBT e Record pegaram um a audiência da outra. Os 6 pontos perdidos na média-dia da Rede Globo foram justamente para esses vários outros meios de entretenimento que surgiram e se popularizaram na última década. É totalmente aceitável essa queda de audiência na TV aberta, assim como também aconteceu em vários outros países pelo mundo. Nenhum programa , por mais sucesso que faça, vai dar 40 pontos de audiência. A novela "Avenida Brasil" - que foi um sucesso gigantesco (as ruas estavam desertas no último capítulo da novela com todos em casa assistindo) - deu 38 pontos de média-geral. Hoje em dia, há algo tão importante quanto a audiência em números. É o chamado "share", que é o número de TVs ligadas em determinado programa. Ou seja, "Avenida Brasil" tinha 38 pontos de audiência, mas geralmente com share de 80% (ou seja, de 10 televisores, 8 estavam ligados na novela).

    De acordo com Thiago Forato, em matéria escrita no dia 31/07/2014, intitulada "O futuro da medição de audiência na televisão em pontos" no site NaTelinha, "a cada ano que passa, os “pontos” dos programas vão cair e vamos passar a chamar tudo de fracasso. Daqui cinco anos, pode ser perfeitamente possível uma novela das 21h dar 15 pontos. Era inimaginável uma delas dar 30 de média geral há dez anos. O futuro, neste sentido, não é nada animador, e vamos ter que aprender a olhar de outras maneiras para os números. Isto é, a interpretá-los de forma diferente, como nos Estados Unidos, onde a medição feita é por telespectadores, e não por pontos.

    A medição, desta forma, se torna mais real e com uma dimensão melhor e “exata” de quantas pessoas estão assistindo determinado programa. Porque por “pontos” ou “cada ponto equivale a X lares ou telespectadores” pode acabar mascarando um sucesso e fracasso desta ou daquela atração."

    Portanto, é muito simplista, irresponsável e amador, simplesmente analisar que os números de determinada emissora caíram se comparados há 10 anos. Isso não significa muita coisa, ainda mais se ligarmos a audiência diretamente ao faturamento. O BBB 14, por exemplo, foi o que menos deu audiência, mas foi o que o programa mais faturou. Se formos analisar outras emissoras, em 2006, quando a Record lanço o slogan "A caminho da Liderança", suas novelas chegavam a cravar 15 pontos no Ibope. Hoje, sofrem pra dar 5 pontos. O reality-show "A Fazenda" que chegava a marcar os mesmos 15 pontos em picos do programa, hoje dá 6 com muito esforço. Todas as emissoras caíram, não apenas a Globo, que parece que caiu mais do que as outras porque é mais fácil notarmos uma queda de 40 para 20 pontos do que de 7 para 5. Mas caiu para todas proporcionalmente. Quando se for analisar a queda de audiência na TV atualmente, temos que levar todos esses fatores em consideração antes de assumirmos erroneamente que a audiência caiu por questão de qualidade, investimento ou qualquer outro fator.

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    1. Obrigado pelo seu comentário Fernando. Muito bom o seu argumento sobre os diferentes modelos de medir a audiência no atual contexto multidimensional da mídia.

      É claro que os números nos dirão muita coisa e é necessário acompanhá-los de maneira mais precisa e exata para que possamos fazer análises ‘sérias’ e ‘reponsáveis’ sobre a TV. No entanto, muito embora os números possam nos dizer quantas pessoas estão assistindo um determinado programa, eles não nos dirão se elas gostam daquilo que assistem—“recepção” em crítica cultural vai muito além do simples “assistir”.

      Talvez pelo seu histórico profissional (de base estatística), ao ler nosso texto você tenha se concentrado unicamente nos números, pois é neles que o seu comentário se baseia. O argumento central do nosso texto não está baseado somente nos números, mas também na análises e opiniões de jornalistas que citamos e que se apoiam nos números medidos pelo modelo que você se opõe.

      Como você afirma (e baseia todo seu comentário e crítica), o caminho da medição por telespectadores e não por pontos, traz “exatidão”, como é feito nos EUA. Com isso, é bom lembrar que tal exatidão sobre a audiência nos EUA já fizeram muitos bons programas de televisão serem cancelados e, há casos que a pressão dos fãs foi forte, e há caso de programas que tiveram que ser ressucitados por tais pressões. Assim, números bons não significam necessariamente uma boa qualidade—e “boa qualidade” não pode ser vista como uma variável fixa, pelo seu caráter abstrato quando analisando qualidade em produções culturais.

      As produções da nossa TV aberta se baseiam em: novelas, reality shows, programa de auditório, programa de calouros, e programa de entrevistas—os dois últimos incluem franchises internacionais, e os programas de entrevistas agora se vestem nos ‘talk shows’ dos EUA. Ou seja, em termos de inovação e originalidade, não há muito na TV brasileira, e quando há, são cópias. Seria preciso números exatos para provar isto?

      E é deste modo que precisamos discordar completamente da sua opinião de que não é possível se medir a “qualidade” de uma ou várias produções de tv sem se levar em consideração o número ‘exato’ de telespectadores, pois, com ou sem os números exatos, ainda é possível afirmar, por exemplo, que o programa do Faustão, ou o programa da Sônia Abraão não são programas de alta qualidade, mesmo que (abstratamente) faça chuva ou faça sol. Outras pessoas irão discordar desta declaração. É apenas uma questão de gosto, uma opinião. Isto, Fernando, é crítica de televisão—uma de várias; alguns irão concondar e outros discordar. Nosso “Blog” é de opiniões, críticas, e análises de casos não baseadas em amostragem, mas sim em alguns fatos e em algumas produções audio-visuais.

      Mas mesmo assim agradecemos pelo seu comentário ‘húbrico’-educativo—mesmo que ainda o nosso texto não tenha sido “sério”, “responsável”, “profissional”, e numericamente ‘exato’ o suficiente para os seus padrões. Talvez não para você, mas a nossa opinião de “amadores” é válida, porque esta é uma opinião de um sério “amante-profissional” de uma “boa” televisão. E ainda continuamos a achar que a TV aberta deveria se afinar aos tempos atuais, ou seja, o argumento central do texto.

      E traduzindo um ditado estadunidense: Fernando “você está latindo pra árvore errada”. Isto é, o Blog cúlti&pópi NÃO É RESPONSÁVEL PELA COLETA DE DADOS SOBRE AUDIÊNCIA DE TELEVISÃO, e nem se propõe a isto.

      Por isso sugerimos e esperamos que você leve seu elevado conhecimento estatístico às emissoras e aos órgãos que trabalham no levantamento destes dados, pois, com certeza, é lá que tal conhecimento será útil. Até eles se alinharem ao padrão usado nos EUA, e que você tanto deseja ver sendo utilizado no Brasil, será impossível para qualquer blog, site, ou jornalista fornecer uma análise que vá atender à exatidão dos seus anseios.

      Valeu, Fernando.

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  7. Apesar de fazer algum tempo que esta matéria foi publicada, gostaria de contribuir com a reflexão e adicionar algo que seja enriquecedor ao atual panorama da tv brasileira. Ressalto que não trabalho com isso, mas acho provocante essa discussão já que é transversalmente associada com a minha área de atuação, que é a internet.
    A queda de audiência na televisão tanto aberta quanto a fechada, vem ocorrendo e a passos de elefante nos Estados Unidos, principalmente porque o público prefere o streaming em sites e app's como netflix, hulu, crakle, amazon, hbo go, youtube, etc e em players como: roku, google chromecast e apple tv. Essa variedade crescente de opções online de streaming, junto com a produção de conteúdo original para essas plataformas e a facilidade de acesso vem propiciando um decréscimo acentuado da audiência tanto para a tv aberta quanto para a paga. Ouso dizer que a internet vai acabar com a tv aberta e fechada na medida em que o acesso a internet torna-se cada vez mais democratizado.
    E sustento isso com a queda da circulação de jornais em países industrializados, a internet vem capturando quase toda a receita da mídia impressa em anúncios. Anúncios online possuem a qualidade de serem segmentados e destinados a um restrito público alvo, o que aumenta substancialmente a efetividade de uma campanha, coisa que nenhuma mídia tradicional é capaz de fazer com tanta eficiência e eficácia. Em breve assistiremos o desaparecimento da circulação impressa de jornais e revistas, isso não quer dizer que a folha de são paulo ou o estado de são paulo desaparecerão e nem que o grupo abril deixará de publicar a veja, porém o uso de papel deixará de ser o principal veículo de propagação dos mesmos visto que as assinaturas onlines crescem ano a ano para esses veículos de comunicação.
    O que aconteceu com a mídia impressa vai acontecer com a industria televisiva, a queda já vem se pronunciando e a tendência é que isso intensifique-se nos próximos anos. O que sustentava a tv por assinatura nos estados unidos era a transmissão de programas esportivos que agora possuem opções em streaming o que está afetando, mesmo que lentamente, a audiência dos jogos na tv aberta e por assinatura americana, audiências cada vez menores são observadas e as receitas já começam a cair ano após ano, mesmo com o tradicional superbowl.
    Séries e novelas já são transmitidas por streaming nos Estados Unidos e cada vez mais os conteúdos migram para essas plataformas.
    O Brasil está engatinhando com relação a isto, só a partir de 2011 que a netlix começou a operar por aqui com ela muitas empresas de midia tradicional como a globo e o grupo abril começaram a criar os seus próprios serviços, curiosamente a globo não licencia seu conteúdo para a netflix, coisa que esta empresa americana achou estranho já que não teve nenhum problema com relação a conteúdo com nenhum outro grupo do mundo, até a toda poderosa Disney e o grupo Time Warner licencia seu conteúdo com algum grau mínimo de restrição ou não com empresas de streaming e a Globo só atrasa o inevitável correndo o risco de tornar-se irrelevante em um mundo cada vez mais conectado e interdependente.
    E como o referido neste artigo no Brasil sofremos com a péssima qualidade da programação brasileira, seja a teledramaturgia, produção de séries, programas de auditório, tudo parece dominado pela péssima qualidade técnica, artística e de bons textos. Qualquer brasileiro, minimamente educado, percebe que um seriado americano é superior em qualquer quesito se comparado a uma série brasileira. Além disso, quem já morou nos estados unidos, percebe que a qualidade das novelas americanas são superiores as brasileiras. O padrão globo de produção é um lixo se comparado com o padrão hollywoodiano de produção. Em algum momento as receitas com publicidade na tv brasileira vão começar a cair, segundo alguns números isto já está acontecendo, e se essas corporações não perceberem que a solução é a internet logo irão desaparecer.

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    1. Oi Marcelo.

      Sim, é verdade. Nos Estados Unidos existem pessoas que nem possuem televisão. Seus computadores são suas fontes de entretenimento áudio-visual. Mas por que isso?

      A estrutura da internet estadunidense, muito embora não tenha a infra-estrutura sul-coreana, é mil vezes bem melhor e bem mais confiável do que as empresas provedoras de broadband no Brasil.

      Até as empresas de comunicação no Brasil, como por exemplo a "Oi", se alinharem e decidirem fornecer um serviço que corresponda minimamente ao valor cobrado aos seus clientes, a Televisão--seja aberta, ou seja fechada--terá vida próspera no Brasil.

      A Netflix pode até funcionar de maneira satisfatória nas grandes metrópolis brasileiras, mas nas periferias e subúrbios brasileiros, assistir qualquer conteúdo original oferecido por aquela empresa, pode ser um verdadeiro martírio! (Isso, na verdade, é o grande desafio da Netflix no Brasil.)

      Com certeza o seu comentário contribuiu bastante com nossa postagem!
      Valeu!

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