Carnaval 2014: Grande Festa do Gigante Inebriado Não Teve Black Bloc, Mas Teve a Coragem dos Garis


O site Melty.com lista as 5 fantasias mais comuns do ano, advertindo: “Black Bloc, mas pode ser perigoso!”

O Carnaval, a grande festa popular brasileira teve sua estréia após as grandes manifestações que começaram no ano passado 2014, sem os Black Bloc e sem muita manifestação político-social. Mas ainda assim, o carnaval deste ano contou com violência e políticos embaraçados.

E com isso, os grandes vencedores do carnaval foram os garis.

O carnaval chegou e os manifestantes, ao que parece, também entraram na folia junto com o restante desse povão lindo e diversificado; junto às celebridades e seus barracos; e junto, é claro, junto aos políticos sempre grande foliões—e verdadeiros donos da festa. Mas talvez os manifestantes estejam se reenergizado; talvez estejam eles somente traçando novas estratégias de mobilização; ou talvez tenham simplesmente entrado no lema de que no carnaval o povo esquece dos seus problemas do dia-a-dia para se divertir.

Mas se enganam aqueles que pensam que os confrontos sociais estiveram fora do carnaval. Houveram manifestações sociais. No entanto, de maneira direta nas ruas ou escondidos na periferia longe da atenção midiática jornalística, o carnaval das manifestações sociais passou com o mesmo sabor oferecido por um enredo de escola de samban onde o tema das injustiças sociais e abuso do poder governanamental tornaram-se não mais do que uma trilha sonora para os sabores profanos.

O fato é que hoje em dia a festa popular está pra lá de normatizada pelo Estado, e essa normatização de comportamento carnavalesco parece até inspirar o governo e extendê-la para além-carnaval. Basta notar que no Rio de Janeiro, que exportou o sambódromo para vários pontos do Brasil, o prefeito Eduardo Paes já tem planos para o após festejos caranavalescos. A prefeitura pretende criar “manifestródomos” onde os manifestantes “poderão ou não” se manifestar tranquiliamente, o quê se torna mais uma manifestação de incoerência do poder público. O prefeito pretende se reunir com movimentos sociais depois do carnaval para discutir o assunto, como diz a CBN, o quê dá um toque democrático na tal idéia pra lá de original.

Mas foi na linha alegórica das “manifestação sociais” que os foliões brandaram seus gritos de carnaval e deram continuidade ao grito das ruas iniciada em junho do ano passado. A Folha de São Paulo reportou que o “Cordão Carnavalesco Boca de Serebesqué, bloco de Guaianazes, na zona leste de São Paulo, terá como enredo as manifestações populares que tomaram as ruas do país em junho de 2013.”

“Na rua, nesse espaço de disputa/ Palco de glórias, samba e luta/ Mais uma vez vamos sonhar/ Que a rua seja toda prosa/ Sem calçada toda nossa”.

E é com com esses versos aí acima que o bloco animou “o sábado (1°) de carnaval na região”. Recordar é necessário e talvez faça parte daquela reenergização do manifestante para o quê poderá vir depois do carnaval. Não podemos dizer que o esforço não é válido. Não, não, não podemos.

Contudo, este esforço se tona um exemplo da banalização ou trivialização de um forte tema. Por mais que se possa teimar e argumentar que não, é isso que o carnaval faz: banalizar e trivializar temas, mesmo os temas mais banais. Nada mais do quê a permitida sátira carnavalesca. Basta ver as quantas e tantas vezes que as escolas de samba já falaram sobre a glória e o flagelo da população negra no Brasil, e das tantas e quantas vezes tivemos exemplos recentes de sérios ataques contra os negros brasileiros. 

Ainda assim o carnaval tem um forte caráter subersivo. E talvez, somente talvez, este caráter subversivo do carnaval brasileiro termine quando o carnaval termina. O quê, interessantemente, torna o carnaval no feriado religioso mais respeitado pelo povo brasileiro.

Ao contrário, e independentemente dos motivos dos protestos e reivindicações dos Venezuelanas, os manifestantes daquele país não se renderam ao poder de sedução do carnaval, onde, mesmo que o presidente Maduro, segundo o portal ionline, tenha afrimado que a Venezuela estava “em paz, desfrutando nos rios, nas montanhas e nas praias”, em sua capital Caracas “voltaram a chover pedras”.

Já no Brasil, antes e durante o carnaval, pairava o medo de que o Black Bloc se infiltrasse nas comemorações de rua e baixassem o pau nos grandes bancos. Os grande veículos de jornalismo, desta forma, não pouparam tempo em recriar sua preocupação com a ameaça brequibróqui

E nessa já-velha-estória de apresentar o brequibróqui como manifestantes que têm a violência como causa única e bláblárréia, o jornalismo profissional nacional resolveu mostrar como alguns blocos de Salvador resolveram se manifestar sobre questões sociais da forma correta, de forma pacífica. O bloco “A Mudança do Garcia”, que parece ter sido escolhido aleatoriamente, foi abençoado pelo repórter da Bandnews TV que declarou: “Aqui os mascarados não são os Black Blocs e o protesto está liberado. Em placas e cartazes, a voz da reinvindicação”. E aí uma foliã fantasiada declarou, “nós estamos protestando contra as músicas que denigrem a imagem da mulher”. O repórter então diz que o bloco é a prova de que “manifestação não precisa ter violência; pode ter sim, muita irreverência”, mostrando imagens de foliões dançando e, um deles que está fantasiado de mulher se manifestou dizendo, “meu protesto é contra a saúde que tá precária!”

Interessantemente os meios jornalísticos já estavam cansados de mostrar cenas sérias de violência no carnaval baiano não provocadas por mascarados brequibróqui, mas sim por foliões e policiais que com suas distintas irreverências carnavalescas comandaram um festival de porradaria nas ruas enquanto reivindicavam porra nenhuma. O quê parece estar se tornando mais uma tradição do carnaval brasileiro.

No último dia do carnaval, O Black Bloc-RJ também levanta esta questão em sua página do FB, “Se há vandalismo em uma manifestação a imprensa está pronta para denunciar, mas e quando ocorre no Carnaval? Há interesse de informar a população? Destruição de patrimônio público pode nesse caso né.. Hipocrisia mandou um beijo..” Os comentários também revelam atos de vandalismo dos foliões, “Os lindos foliões passaram na minha Rua no Méier e tacaram pedras em carros, nas casas e quebraram placas e lixeiras...”

O uso das máscaras no carnaval também virou uma das grandes preocupações da tranformação do carnaval em espaço para as manifestações politico-sociais. No entanto foi uma das mais clássicas e tradicionais fantasias mascaradas do carnaval do Rio de Janeiro, que forneceu terror e morte dentro do metrô e nas ruas dos subúrbios cariocas: o famoso clóvis, ou bate-bola. Outro fato que na verdade é uma repetição do carnaval do ano passado. Uma nova tradição do carnaval. Uma repetição que nos alerta sobre a verdadeira ameaça terrorista existente no Brasil hoje, que passa longe do grupo Black Bloc, mas como não quebram as vidraças dos grandes bancos, e só assaltam e matam cidadãos, essa é uma ameaça política bem menor do quê os BBs.

Mas o Carnaval é ainda um espaço para subversões sociais? Sim, claro. Por exemplo, a primeira dama do estado do Acre, Marlúcia Cândida, subverteu a ordem estabelecida de que (seja lá o papel de uma primeira dama na política), ela deve estar ao lado do maridão dando apoio à população do seu estado. O Acre teve seu carnaval cancelado devido as fortes enchentes dos rios Acre e Madeira, inundado e deixando o estado ilhado, o quê gerou sérios problemas de abastecimento de produtos básicos no estado.

Marlúcia Cândida, candidamente, resolveu se manifestar com penas na cabeça e sorriso aberto na Marquês de Sapucaí na terça-feira gorda, desfilando pela escola de samba Unidos de Vila Isabel, Rio de Janeiro. Mas os internautas de plantão não perdoaram, como informou o portal G1.

É bem sabido que políticos gostam do carnaval. Mas na verdade, eles amam o carnaval.

E nenhum político sabe aproveitar mais o carnaval do quê a dupla fluminense Sérgio Cabral e Eduardo Paes. Mais desgastados do quê calça jeans de peão (de suas empreiteiras favoritas) com alguns últimos escândalos e com um grande repúdio popular, os dois pareciam ter tomado o trono do Rei Momo. Sabe-se entretanto que “eufórico, Sérgio Cabral beija prefeito e toma afrodisíaco na Sapucaí”. Também corre o rumor de que Cabral caiu no samba, ou melhor, caiu sambando de cara cheia na avenida. Mesmo não sabendo se isso é verdade ou não, sabe-se da grande possibilidade deste tipo de coisa acontecer, pois não dá para esquecer aquele vídeo embaraçoso na Sapucaí em 2010 no qual mostra o chapadão Cabral deixando a então candidata a presidenta Dilma mais sem graça do quê piada de Danilo Gentili.

Com certeza as manifestações retornarão reenergizada às ruas depois do carnaval. Mas quem teve culhão para se manifestar, protestar e reinvindicar durante o carnaval? Quem tava na luta?

—Os Garis da Cidade do Rio!

Isso mesmo. E esses são os ganhadores do troféu Mantendo o Espírito do Gigante Acordado (e sóbrio) pela coragem de manter greve durante o mais precioso dos feriados. E por isso agora eles vêm recebendo o mesmo trato que a dupla Cabral-Paes já havia reservado aos seus melhores e essenciais profissionais, como os bombeiros e os professores. Ou seja, demissão.

Manifestação dos Garis, 1 de março. (Foto: Jornal de Brasil)

Os garis tiveram a coragem de protestar frente à prefeitura do Rio de Janeiro onde cobraram “melhores condições de trabalho”. Mas como ousam os garis, classificados pelo jornalista e contorcionista facial Boris Casoy como o profissional “mais baixo da escala do trabalho”, fazerem resitência política durante o carnaval? Bem, eles ousaram, e sem aquele apoio maciço e organizado dos manifestantes que, por exemplo, foi mostrado aos professores.

Manifestação dos Garis, 1 de março. (Foto: Jornal de Brasil)

Manifestação dos Garis, 1 de março. (Foto: Jornal de Brasil)

Vendo as fotos das manifestações dos garis, vemos que como a categoria é majoritariamente composta por trabalhadores não-brancos. Isso é transgressão de várias das normas estabelecidas pelo governo para o carnaval. Esta foi um dos pouco atos de subervesão no carnaval, e por isso tiveram que enfrentar a polícia do estado.

E é por isso que os Garis foram os únicos a manterem o Gigante acordado e sóbrio durante o primeiro carnaval após as grande manifestações sociais. E tudo parece que a luta da categoria não acabou, pois hoje, quarta de cinzas, eles ainda estão protestando.

O Governador Cabral na Avenida com a sua amada Mangueira, e do lado direito, Garis manifestando.

O Carnaval enquanto manifestação cultural brasileira, com exceção das sátiras carnavalescas, ainda é um espaço limitado para qualquer manifestação politico-social. O jornal espanhol El País perguntou no dia 4 de março, “Melhor malandros que black-blocs?” e responde no subtítulo da manchete: “Os brasileiros, como já haviam apontado os antropólogos, têm mais simpatia pela festa que pela revolução”. E isso parece ter sido confirmado no 1o. carnaval pós-grandes manifestações politico-social.

c&p


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