Coven, título da 3a. temporada da série American Horror Story do canal fechado FX, foi ótima! Mas se compararmos esta última temporada de American Horror Story com as duas primeiras, na minha opinião, esta não seria a melhor. Nem a pior. Pareço confuso porque é difícil fazer comparações. Ou talvez não seja confusão: Eu apenas esperava muito mais desta temporada que contou com um grupo de atrizes do mais alto escalão. É isso! Eu fiquei decepcionado com o desenvolvimento da trama. Mas ainda sou fã da série.
American Horror Story já entrou para a lista de séries que nunca sairão do imaginário popular. Criada e produzida por Ryan Murphy e Brad Falchuk (os mesmos da série, pasmem, Glee), a série é classificada como “série antolólogica”, ou seja, cada temporada tem uma estória e personagens diferentes contando com um elenco quase que fixo. A primeira temporada recebeu o título de American Horror Story: Murder House (Casa Assassina, ou Casa da Morte), que se passa em 2011 e conta a estória de uma família que se muda para uma casa assombrada por seus vários antigos ocupantes. A segunda temporada, American Horror Story: Asylum (Hospício), se passa em 1964 e conta as estórias de pessoas internadas emu ma instituição para criminais mentalmente insanos. Esta nova temporada, American Horror Story: Coven (Conventículo), se passa em 2013 e conta a história de bruxas.
Quando se fala em bruxas se pensa logo em bruxaria, feitiços e poções e caldeiras esfumaçantes. Mas também pensamos na população local de uma cidade que, se sentindo ameaçada ou simplesmente histérica, à noite, carrega tochas e aos gritos persegue e queima um grupo de mulheres. Bem, além dos feitiços Coven não teve nada disso, mas teve muita intriguinha e uma longa briga de duas facções de bruxas descendentes das bruxas da cidade de Salem, no estado de Massachusetts.
Vale lembrar que entre 1692 e 1693, Salem foi o local do famoso julgamento de mais 200 pessoas acusadas de bruxaria. Na série, as verdadeiras bruxas espertamente escaparam rumo ao sul onde se instalam na cidade de Nova Orleans. E nesta nova cidade elas criam uma escola interna para jovens bruxas e estabelecem o “conventículo” local—“conventículo,” tradução de coven, significa uma assembléia, um grupo de bruxas.
No primeiro epsódio vemos a jovem Zoe Benson (Taissa Farmiga) sendo levada para esta escola após manifestar seus dons. Lá ela se junta a três outras internas: a arrogante estrela de cinema Madison Montgomery (Emma Roberts) que possui poderes telecinéticos (movimento de objetos usando a mente), a boneca voodoo humana Queenie (Gabourey Sidibe), e a clarividente Nan (Jamie Brewer). A escola é dirigida por Cordelia Foxx (Sarah Paulson) que sempre viveu à sombra de sua mãe, a bruxa “Suprema”, Fiona Goode (Jessica Lange).
Na cidade é mantido um segredo sobre a escola e a sua principal função. E talvez por isso tal escola não tenha sido alvo de ataques da população local durante toda a temporada. Ao entrar para a instituição, as meninas são separadas de suas famílias, e lá elas deverão aprender a usar e a controlar seus dons.
Ironicamente, a escola também tem o objetivode de servir como ter um refúgio, um lugar seguro para as jovens bruxas perseguidas pela sociedade, e assim formar uma família. Mas logo é revelado que Fiona garantiu seu lugar como Suprema matando a líder daquele conventículo nos anos 70 assim assumindo seu lugar na sucessão, e isto logo nos diz que a escola não é um lugar tão seguro assim.
Desde que Fiona aparece em cena, tudo deixa claro que ela não pretende deixar de ser a Suprema. Fiona é vaidosa, arrogante, e tendo vivido toda sua vida no jet-set internacional como uma rainha, como a Suprema, ela deixa claro que não abrirá mão desta vida. No entanto ela é forçada a lidar com a velhice, processo este que enfraquece seus poderes. E ela também descobre que carrega um câncer incurável, indicando que uma nova Suprema está se fortalecendo e logo haverá a sucessão da líder. Isto a leva à busca da vida e da juventude eternas.
A escola então, se torna o oposto de uma “família”. A instituição se torna o campo de uma guerra já que—a agora parnóica—Fiona trava com o intuito de matar a nova Suprema que nem ainda foi revelada.
Ao mesmo tempo, acontecem outras duas batalhas. A primeira com Marie Laveau (Angela Bassett), descendente da escrava que foi queimada em Salem, carregando um rivalidade de séculos contras as descendentes das bruxas de Salem, e que cultua a magia Africana, representada no Voodoo haitiano de Nova Orleans. No século 19 Marie Laveau vendeu sua alma ao diabo voodoo, Papa Legba, em troca da vida eterna, e este fato intriga Fiona profundamente. A segunda batalha é travada contra um grupo, também de longas datas, de caçadores de bruxas que controlam uma grande comporação financeira.
Após uma longa guerra de nervos, Fiona se alia a Laveau para contra-atacar os caçadores de bruxas enquanto Laveau revela o seu segredo para uma vida e juventude eterna. E assim, sem muito pensar, Fiona também decide vender sua alma. No entanto Papa Legba rejeita a negociação por descobrir que Fiona não tem alma. Fiona e Laveau então matam a jovem bruxa clarividente Nam, e oferecem a alma da jovem bruxa como pagamento no lugar da alma que Fiona não possui, e Papa Legba aceita, claro, porque ele é um capetinha. Fiona e Laveau então atacam o grupo de caçadores de bruxas usando uma magia para levar a grande corporação à falência, para depois, em uma sala de reuniões, matar os diretores do grupo.
Queenie, a bruxa que é uma boneca voodoo ambulante, consegue encontrar Papa Legba e ele lhe revela como eliminar Fiona e Laveau e as duas morrem indo direto para seus infernos particulares.
Com Fiona morta, somos levados à seleção da nova Suprema que se dá através do teste das “Sete Maravilhas”, ou seja, um teste onde as participantes demonstram total controle sobre 7 poderes. O teste ocorre no último episódio e foi o ponto alto de toda a temporada. Depois de mortes, intrigas, trocas de insultos, e exibições gratuitas de poderes, Cordelia é revelada como nova Suprema—uma surpresa, já que Cordelia sempre achou que não tinha poderes especiais, descobrindo então que ela sempre teve seus poderes reprimidos pela personalidade/caráter forte, e cruel, de sua mãe.
Enfim, os 13 episódios mostraram um grande cenário de entrigas e brigas que na verdade vão muito além do que eu pude ou possa descrever sem precisar resumir ironicamente episódio por episódio. Mas este grande cenário não se aprofundou em nenhum dos personagens, e cada pequena trama foi apresentada de forma muito rápida, muito corrida. Como exemplo temos a própria escola de bruxas que, mesmo pelo fato da escola nunca ter ensinado nada para as jovens—pelo menos que tenha sido mostrado em alguma cena—, considera as pequenas bruxas prontas para competir no teste das sete maravilhas. E talvez por isso que uma delas morre durante o teste no qual elas deveriam ir ao inferno e retornar, por não conseguir sair de lá. A bruxa boa Misty Day morre, logo a única que não merecia viver eternamente no inferno e também a única que foi perseguida e que foi queimada (e que retornou à vida graças aos seus poderes de ressucistação e se juntou ao conventículo) pela população local em todos os 13 episódios.
As jovens bruxas durante o teste das Sete Maravilhas. Da esq. Zoe Benson (Taissa Farmiga), Queenie (Gabourey Sidibe), Misty Day (Lily Rabe) e Madison Montgomery (Emma Roberts) |
Conclui-se que o quê elas fundamentamente aprenderam na tal escola de bruxas foi a fazer intriga, se machucarem física e mentalmente, a tentar matar e a matar umas as outras. No último capítulo, entretanto, tudo indicava que a escola iria retornar ao seu objetivo depois do mandato da Suprema Fiona—que deve ter entrado para a história das bruxas como uma espécie de George W. Bush.
Fiona, na verdade, é um dos poucos personagem que foi apresentado quase inteiramente. Vemos suas intensas crises paranóicas que involviam sua ganância por “poder”, suas emoções sempre guiadas pela vaidade, a perda de sua beleza e o afastamento dos homens que sempre vinham em sua direção, e lidar com seus erros passados, e alguns poucos arrependimentos. Fiona, de certa forma, mantém uma linha de coerência entre as três personagens de Jessica Lange nas três temporadas da série.
Outra personagem mostrada profundamente foi de Delphine LaLaurie, personagem vivida pela sempre-muito-boa-atriz Kathy Bates, que teve uma história muito bem montada dentro da trama. Delphine LaLaurie é uma escravagista do século 19 que tortura e mata seus escravos—ela colhia sangue dos escravos para usar como cosmético rejuvenescedor. Após Delphine transformar um dos seus escravos em minotauro (escravo que também era o amante de Marie Laveau), Laveau dá a Delphine uma poção de vida eternal e a enterra viva. Fiona a desenterra para irritar Laveau e para descobrir o segredo da vida eterna, e a coloca para trabalhar como empregada na escola.
O grande barato da personagem se dá quando ela tenta lidar com a nova sociedade que é desenterrada com ela. Quando chega à superfície, após mais de 100 anos debaixo da terra, a racista-até-o-último-fio-de-cabelo se depara com uma nova realidade. Ela não só se choca, mas sofre em demasia com esse novo mundo. Mas isto se dá não pelos avanços tecnológicos, mas sim pelos avanços sociais. Ela chega a chorar e pedir para morrer ao ver um homem negro como o presidente dos Estados Unidos e ver todos os avanços dos direitos civis americano, considerando tudo aquilo como uma derrota pessoal.
Já outros personagens entraram e sairam sem mais nem menos. Este foi o caso de Joan Ramsey, uma religiosa fundamentalista que se muda para a casa ao lado da escola com seu filho bonitinho. Joan poderia ter sido a catalista de um verdadeiro ataque ao conventículo, mas não, tudo que podemos lembrar da personagem é ela fazendo uma lavagem intestinal em seu filho depois dele fazer uma rápida visita a escola para que ele ficasse limpo por dentro, e daí nada. Joan Ramsey não chegou nem a justificar a presença da fantástica e já lendária atriz dos palcos da Broadway, Patti LuPone para interpretá-la (talvez ela tenha sido escalada pelo simples fato de que os criadores da série Murphy e Falchuk serem grandes fãs dos musicais). Também a personagem Nam, interpretado com o carisma da atriz Jamie Brewer—que é a única atriz portadora da síndrome de Down na ativa—que manteve uma presença forte durante toda a temporada, mas que não teve seu passado apresentado, ou mesmo seus poderes bem utilizados na estória.
Ficou evidente, no entanto, o nível superior das atrizes que compuseram o elenco, pois mesmo que os personagens não tenham sido apresentados em seu todo, essas atrizes construíram suas personagens de maneira tão notável que nos levou a acreditar que as personagens estavam ali por completo, que estavam sendo mostradas por inteiro. Exemplos disso são Myrtle Snow, a ex-colega de escola e rival-desde-sempre de Fiona, interpretada por Frances Conroy; e a bruxa bondosa e solitária do pântano, Misty Day, que tem o poder de ressuscitação e que é obsecada por Stevie Nicks, interpretada por Lily Rabe. E é claro, Angela Bassett interpretando Marie Laveau foi um dos pontos altos da série, na minha opinião, pois eu nunca tinha visto a atriz tão confortável em um papel como neste—como Tina Turner, talvez.
Mas ainda assim, a personagem vivida por Patty LuPone foi a que mais sofreu pela ausência ou mesmo justificativa de ser, mesmo quando comparamos à participação simplesmente especial e totalmente gratuita de Stevie Nicks como a bruxa Stevie Nicks—o quê, somada ao grande número de propaganda de produtos como o restaurant do chef Emeril, Coca-Cola, Sprite e Benadryl (remédio para alergias), quase tornou a temporada em um programa de variedades
Mesmo assim, American Horror History ainda continua sendo uma das minhas séries favoritas, principalmente pelo conjunto de atores que consegue reunir e pelas estórias de horror tão modernas quanto a internet. Essa temporada teve muitos erros, mas também provou que ninguém grita a palavra “não” tão bem quanto Jessica Lange. E eu não ficaria surpreso caso a série tenha batido o recorde de temporada de séries que teve o maior número de copos e outros objetos sendo quabrados ou jogados contra a parede durante ataques de raiva ou de simples histeria.
Coven também manteve-se fiel aos bons diálogos e falas como uma marca da série, como por exemplo quando Fiona mata Madison, por achar que ela é a nova Suprema, cortando sua garganta no grande salão da escola. Madison cai sobre o tapete quando Fiona olha para a entrada do salão e vê o Mordomo Spalding (que secretamente ama Fiona e que a viu matando a antiga Suprema no mesmo local anos antes), e ele lhe serve um drink. Fiona após disparar verbalmente seu descontentamento com sua velhice, encontra em seus devaneios força sufiencente para declarar que aquele “conventículo não precisava de uma nova Suprema, mas sim de um novo tapete”, enquanto olha o corpo de Madison estirado no tapete cheio de sangue. Que bruxa...
c&p
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