O Talento e o Vigor de Raúl Esparza—“Being Alive”. New York, 2007

O ator Raúl Esparza é mais do que somente o promotor Rafael Barba da série Lei & Ordem—Unidade de Vítimas Especiais. Sua interpretação da canção “Being Alive” no papel de Bobby na versão de 2006-2007 do musical Company, é uma prova da versatilidade do seu talento.

Raúl é um respeitado ator dos palcos da Broadway, já tendo sido indicado para o prêmio Tony (o prêmio de teatro mais prestigiado dos Estados Unidos) em todas as categorias as quais um ator pode ser nomeado, incluindo uma pelo papel de Bobby na produção de 2006 de Company.



Raúl Esparza interpreta a canção “Being Alive” (Teatro Ethel Barrymore, New York, 2007.) O vídeo é parte da gravação da comédia musical para o programa Great Performances do canal de televisão pública estadunidense PBS, exibido em novembro de 2007. 


A canção faz parte da comédia musical em 2 atos Company (Companhia) de Stephen Sondheim (música e letra) e George Furth (libreto), que estreou pela primeira vez em 1970 e recebeu 14 indicações ao Tony, ganhando 6. Na época de sua estreia, Company foi um musical inovador quando ainda não existia uma definição precisa para o tipo de material que Sondheim produziu. Sem um enredo sequencial, o espetáculo segue uma série de cenas que giram sobre o mesmo tema: o aniversário de 35 anos de um solteirão.

Hoje Company é classificado como um musical-conceitual, e basicamente se centra no aniversário de 35 anos do personagem Robert, um homem incapaz de se comprometer emocionalmente a relacionamentos sérios, com três namoradas, e que vive a observar os seus dez melhores amigos (que compõem cinco casais comprometidos) em seus melhores, piores e mais loucos momentos de suas relações. Esse foi um dos primeiros musicais a lidar com a temática adulta de relacionamentos. Sondheim disse sobre seu musical na época de sua estreia:

“Por muitos anos os teatros da Broadway têm sido frequentados por pessoas da classe média-alta com problemas da classe média-alta. Elas querem escapar daquele mundo quando vão ao teatro, e aqui estamos com Company, falando de como vamos pôr aquele mundo de volta na cara deles”.

Nos anos 90, Stephen Sondheim e George Furth fizeram mudanças no seu libreto original, retirando partes que eles consideram já ultrapassadas na cultura e na sociedade 20 anos após a estreia. Mudanças menores vieram naturalmente em outras produções do musical seguindo as ideias de seus diretores. A produção de 2006, por exemplo, se destaca pela visão do diretor John Doyle (indicado ao Tony de melhor diretor) em usar o elenco como parte da orquestra—a versão ganhou o Tony por melhor reencenação de um musical.

O vídeo acima é o final do 2º e último ato. No vídeo, Bobby toca o piano e, interessantemente, “Being Alive” é a única música que o ator sabe tocar por inteiro neste instrumento. Nesta montagem, ainda, esta é a única vez que o personagem Bobby toca um instrumento, marcando o momento no qual o personagem torna-se parte integrante da orquestra junto com os outros personagens que tocavam seus instrumentos desde o início, representando a passagem de Bobby de um mero observador a um membro do grupo.

Ben Brantley, crítico de teatro do The New York Times, em 2006 escreveu sobre a atuação de Raúl no papel de Bobby.

“Mas é o Sr. Esparza o maior especialista em ambivalência aqui, fornecendo a 'Company' o mais convincente polo central que a obra provavelmente já teve. Nas produções anteriores, Bobby ficou registrado sobretudo como uma melancólica janela com vista para outras vidas.

Mas o Sr. Esparza é tudo menos um enigma. Embora o seu Bobby possa parecer lacônico e divertidamente indiferente, você está sempre ciente que este é um homem que está sofrendo. Como qualquer um que o viu nas produções de 'Cabaret' ou de 'The Normal Heart' sabe, o Sr. Esparza é geralmente um ator pirotécnico, lançando faísca e fumaça por toda parte.

Ao manter uma tampa sobre tamanha energia vulcânica, ele faz com que a explosão climática de Bobby seja inevitável. Embora ele cante lindamente do começo ao fim—de um jeito que define o solipsismo de seu personagem—ele traz um êxtase transportador à agonia do número final, no qual Bobby finalmente se junta ao bando de vida humana”.


E o número final é “Being Alive”.

“Being Alive” foi ntroduzida para as novas gerações através do filme “História de Um Casamento” (2019), onde o personagem de Adam Driver a canta em uma versão piano bar, quando começa a se dar conta da sua nova realidade como um homem divorciado, uma marcante transformação do significado e contexto da composição.

Em “Being Alive”, as observações de Bobby se tornam um pedido pessoal e a canção em uma jornada que se inicia numa queixa chegando a uma prece.

Lorien Kite em “Being Alive—como a canção de Stephen Sondheim adquiriu novos significados ao passar dos anos” diz que esta não é uma canção comum.

“Não é um lamento nem uma celebração, ao invés, ela pertence a uma subcategoria que Sondheim criou como sua: a indagação sobre o comprometimento em si”. 

Com o mínimo de movimento, ainda segundo Lorien, “a letra mostra o Sondheim compositor, cujas melodias frequentemente permanecem relativamente as mesmas enquanto tudo em volta delas muda”.

E neste trajeto notamos a mudança mais concreta ocorrendo quando pede-se a Bobby para “querer algo” enquanto ele faz seu pedido ao apagar as velas do bolo de aniversário. Nesse momento, as observações que Bobby faz dos relacionamentos dos outros tornam-se algo que ele passa a desejar para si mesmo. Assim, o musical culmina com a transformação de Bobby: de solteirão descomprometido a monógamo experimental.

“Being Alive” é um dos clássicos do consagrado compositor Stephen Sondheim—autor que completou 90 anos nesse ano—que saíram dos palcos da Broadway e adentraram na corrente principal da cultura popular. A interpretação de Raúl, em comparação com algumas outras interpretações, levou a canção a uma dimensão ao mesmo tempo pungente e esperançosamente tocante, levando alguns a classificar sua interpretação do personagem Bobby como uma das importantes transformações da canção e do significado do musical Company que ocorrem desde sua estreia em 1970.

c&p

֎

A produção de 2006 da comédia musical completa (em inglês), Great Performances, PBS

Raúl Esparza Site Oficial

Raúl Esparza no Instagram.

Great Performances, PBS, Canal Youtube


Fontes:

Company, Wikipedia.

Lorien Kite, “Being Alive—how Stephen Sondheim’s song has acquired new meaning over the years” (Being Alive—como a canção de Stephen Sondheim adquiriu novos significados ao passar dos anos), 16 de março de 2020.

Musical Theatre Mash (Canal Youtube), “Company: The 'Concept' Musical”, vídeo. 

Ben Brantley, “A Revival Whose Surface of Tundra Conceals a Volcano” (Uma Reencenação Cuja Superfície de Tundra Esconde um Vulcão) , The New York Times, 30 de novembro de 2006.

.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

('Trollagens' e comentários desrespeitosos e ofensivos não serão publicados):