Gabourey Sidibe, Por Quê Você é Tão Autoconfiante?


(Foto: Reprodução/Internet; Zap2it)

O inspirador discurso de Gabourey Sidibe sobre biscoitos, feminismo e autoconfiança.

Este artigo de Jennifer Vineyard foi originalmente publicado no site Vulture, Devouring Culture, e por nós traduzido. O inspirador discurso da atriz protagonista do filme “Preciosa” (2009), Gabourey Sidibe, durante um evento no dia 1o. de maio em Nova York, parece ter sido transcrito e com certeza, mesmo que tenha sido lido, teve claro momentos de improvisação revelando a interação da atriz com o público presente. Sua fala nos mostra como as pessoas buscam caminhos e estratégias diferentes para lidar com as dificuldades que a vida apresenta.

Leia o Maravilhoso discurso de Gabourey Sidibe na Noite de Gala da Ms. Foundation

No último 1o. de maio em Nova York, o Gloria Awards and Gala (Noite de Gala dos Prêmios Gloria), que é apresentado pela Ms. Foudation for Women, (fundação filantrópica que auxilia financeiramente projetos sociais à mulheres) também serviu como comemoração pública do aniversário de 80 anos da lendária jornalista e ativista feminista estadunidense, Gloria Steinem. Além da entrega dos prêmios também houveram discursos de Chelsea Handler, Amy Schumer, and Gabourey Sidibe, entre outros. O longo e maravilhoso discurso de Sidibe—que falou sobre biscoitos, autoconfiança, e feminismo—pode ser lido por inteiro logo abaixo. Valerá o seu tempo!


Eu estou tão entusiasmada por estar aqui. Realmente, estou realmente entusiasmada. Muito bem, eu vou logo ao assunto. Olá. Uma das primeiras coisas que as pessoas costumam me perguntar é, “Gabourey, como é que você é tão autoconfiante?” Eu odeio esta pergunta. Eu sempre me pergunto se esta é a primeira coisa que eles perguntam para a Rihanna quando a encontram pela primeira vez. “Ri Ri! Como é que você é tão autoconfiante? Não. Não. Não. Mas comigo? Eles me perguntam com a mesma descrença toda santa vez que me encontram. “Você parece tão autoconfiante! Como você faz isso?”

Quando eu tinha 10 anos de idade, na 5a. série, minha professora, a Senhorita Lowe nos avisou que a festa de natal da minha turma aconteceria logo antes do feriado. Ela nos pediu que levássemos salgadinhos, refrigerantes, ou sucos para a festa. Ela também nos deu a opção de prepararmos algo, caso quiséssemos. Eu fiquei muito entusiasmada. Imediatamente decidi que faria biscoitos de gengibre, e que todos iriam adorá-los. Eu contei meus planos para a minha mãe e pedi dinheiro para comprar os ingredientes. Ela achou que eu deveria simplesmente comprar os biscoitos na loja, mas eu respondi, “Os biscoitos da loja não têm amor o suficiente!” Eu tinha que fazer aqueles biscoitos. Então, eu comprei a massa e comprei os cortadores de massa com formatos de árvores de natal e de sinos. E eu fiz alguns só para praticar, e eles ficaram horríveis. Que bom que aqueles biscoitos eram somente para praticar, pois eles realmente ficaram horríveis. E na noite anterior a festa eu fiz mais biscoitos. E estes também ficaram horríveis, mas como tinham uma aparência bem melhor, eu cuidadosamente os coloquei em um saco plástico para levá-los para a festa no dia seguinte. Quando eu cheguei na escola naquela manhã, eu aguardei impaciente o início da festa. E eu estava tão orgulhosa pelos biscoitos que eu fiz, e por toda a energia que eu coloquei no seu preparo que eu comecei a pensar que talvez eu me tornaria a primeira mulher negra Presidente do país—ou talvez uma chefe de cozinha profissional! Pois é, por quê me limitar?

A festa estava programada para a última hora de aula, e eu esperei ansiosa durante o dia todo. Mas finalmente chegou a hora da festa. Minha professora perguntou o quê cada um havia levado, e eu orgulhosamente disse que eu tinha feito biscoitos para a turma. Eu acho que eu eu fiquei orgulhosa por saber que todos haviam comprado o quê eles levaram pra festa e eu era a única que tinha preparado algo, porque claramente, eu sou um pouco mais esperta que todos os outros. Então quando a festa iniciou, eu caminhei pela sala de aula orgulhosamente oferecendo biscoito a todos. Ninguém pegou meus biscoitos. Ninguém. Ninguém com exceção do Nicholas, que foi a primeira pessoa a quem eu havia oferecido os meus biscoitos. Mas após alguns outros alunos conversarem com ele, ele veio até a mim, enquanto eu andava pela sala de aula, e me devolveu o biscoito. Eu fiquei andando pela sala oferecendo meus biscoitos até terminar na minha carteira com a mesma quantidade de biscoitos que eu tinha quando cheguei à escola. Eu me sentei na minha carteira sozinha, comendo aqueles biscoitos de gengibre horríveis que eu levei horas para preparar, completamente sozinha. Eu coloquei pedacinhos de chocolate neles, e por isso eles ficaram ruins. Mas eu não fiquei surpresa. Por um momento, eu só havia esquecido que a turma toda me odiava. Eu não tinha nenhum amigo da quarta até a sexta série. Afinal, eu fiz biscoitos para quem? Eu simplesmente fiquei tão entusiasmada para preparar aqueles biscoitos que eu me esqueci que todos me odiavam tanto. E por quê eles me odiavam? Eu era gorda, sim. Eu tinha a pele escura e o cabelo estranho, sim. Mas a verdade é que esta não é uma estória sobre maldade, ou sobre cor de pele, ou de peso. Eles me odiavam porque… eu era uma grande babaca!

Isso. Eu era mandona, uma babaca mandona. Vejam só, vocês se lembram que eu disse que eu me achava mais esperta do que todo mundo? Bem, eu me achava! E eu dizia isso a eles—todo santo dia! Aquelas crianças não podiam falar nada interessante que eu os cortava para lembrá-los que eu era mais inteligente, mais engraçada, e em todos os aspectos, mais espirituosa do que todos eles. Eu sempre fui sarcástica—eu chamava isso de meu defeito de nascença. E temos que encarar o fato de que crianças não entendem sarcasmo. Eles não apreciavam sarcasmo. Eles nunca sabiam do quê eu estava falando, e quando eles diziam, “espera aí… hum?”, eu dizia, “Meu Deus, Alicia, leia um livro!” Eu sei. Eu falava diferente, eu simplesmente falava. Eu soava mais como uma Patricinha de Beverly Hills do que uma garota do Brooklyn. Os alunos da minha turma sempre perguntavam se eu tinha sido adotada por um casal branco, e eu respondia, “Não. Meus pais fizeram faculdade”. Eu sei que eu era rude, mas eu ainda continuo tendo orgulho dos meus pais. Para ser honesta, no meu bairro não eram todos que tinham pais com o nível superior. A maioria das crianças da minha turma nasceu quando seus pais ainda eram adolescentes. Meus pais me tiveram quando eles tinham por volta de 30 anos. Meu pai nasceu no Senegal e o pai dele era o prefeito da cidade capital, Dakar. Eu e meu irmão íamos à África com meu pai com frequência, enquanto as crianças da minha turma nunca pisaram fora do bairro do Lower East Side. Minha mãe era professora do ensino médio, mas também tinha uma voz. Por isso, quando eu tinha 9 anos de idade, ela parou de lecionar e começou a cantar, se apresentando em estações do metrô. Na verdade, ela conseguiu ganhar mais dinheiro com as gorjetas cantando do quê ela ganhava como professora! Pois é! Rapidamente ela estava se tornando a versão subterrânea da Whitney Houston. Ela foi a pessoa mais forte, inteligente, e mais talentosa que eu já conheci. Mesmo hoje, eu não quero crescer e ser ninguém mais como eu quero ser igual a ela. Mesmo!

Mas a questão é que eu era uma esnobe. Eu me achava melhor do que as outras crianças da minha turma, e eu fiz questão que elas soubessem disso. Por isso eles não gostavam de mim. Eu acho que a razão pela qual a todo momento eu me considerava tão superior, foi porque ninguém nunca tentou me fazer crer que eu era capaz. Eu percebi que eu era mais inteligente porque minha mãe dizia aos berros para o meu irmão mais velho, “Sua irmã, mais nova que você, vai te passar na escola. Você vai ficar pra trás e ela vai se formar antes de você”. Mas ela nunca me disse, “Você é inteligente”. O quê ela me dizia era, “Você é muito gorda”. Eu recebi a mensagem de quê eu não era bonita, e que eu provavelmente não era normal, mas que eu era inteligente! Por quê eles apenas não podiam me dizer isso? “Você é inteligente.” Na verdade, não é tão difícil. Meu pai gritava com o meu irmão, “Gabourey faz o dever de casa sozinha! Por quê você não pode fazer?” Mas ele nunca me disse, “Parabéns”. O quê ele me dizia era, “Você precisa perder peso para que eu possa me orgulhar de você”. Eu sei. Então eu era motivo de piada na escola, e era motivo de piada também em casa. Meu irmão não gostava de mim, meu pai simplesmente não me compreendia, e minha mãe que também havia sido uma menina gorda quando ela tinha minha idade, me compreendia perfeitamente… mas ela me repreendia porque ela tinha tanto medo do quê ela sabia sobre o que estaria me aguardando no futuro. Então por isso eu nunca me senti segura quando estava em casa. E minha resposta a isto tudo sempre foi comer mais, porque nada pode dizer, “Você feriu meus sentimentos, então, foda-se!”, do quê comer um delicioso biscoito. Biscoitos nunca me machucaram.

“Gabourey, como você é tão autoconfiante?” Não é fácil. É difícil me produzir para os eventos de entrega de prêmios e para os tapetes vermelhos quando eu sei que farão piadas sobre o meu peso. Sempre haverá uma grande chance de que quando eu vestir roxo, serei comparada ao Barney. Se eu me vestir de branco, dirão que sou um peru congelado. E se eu usar a cor vermelha, serei compara aquela jarra de Q-Suco que diz, “Oh, yeah!” (“É isso aí!). O Twitter vai estourar com comentários perversos sobre como o recente terremoto foi causado pelo fato de eu estar correndo atrás de um carrocinha de cachorro-quente ou algo parecido. Ou “Morra ou Faça Uma Dieta?” [Ela mostrou o dedo do meio] É isto com que eu tenho que lidar toda vez que eu coloco um vestido. E é com isto que eu lido toda vez que alguém tira uma foto minha. Às vezes quando eu estou sendo entrevistada por uma repórter de moda, eu posso ver ela pensando, “Como ela vai conseguir se safar vestindo isto? Por quê ela é tão autoconfiante? Como é que ela lida com aquele corpo? Ai meu Deus, vou ser contaminada pela obesidade dela!”

O quê eu agora posso dizer é que minha mãe levou meu irmão e eu para morar na casa da minha tia. O nome dela é Dorothi Pitman Hugher, ela é uma feminista, uma ativista, e uma velha amiga de Gloria Steinem. Todos os dias, eu tinha que me levantar e ir para escola onde eu era motivo de gozação por parte de todos, e eu tinha que voltar para casa onde todos me gozavam. Era difícil enfrentar os dias, não importando qual direção eu seguisse. E era no caminho de saída da casa que eu encontrava forças. Nessas manhãs, em meu caminho em direção ao mundo, eu passava por um retrato da minha tia com Gloria, juntas. Erguidas lado a lado, uma com um lindo cabelo comprido e outra com o mais lindo e redondo cabelo Afro que eu já tinha visto. Ambas com seus punhos erguidos ao ar. Poderosas. Autoconfiantes. Todos os dias quando eu saída de casa… eu cumprimentava aquela foto erguendo meu punho bem alto e marchava rumo à batalha. [Ela começa a chorar] Eu não sabia que naqueles momentos eu estava sendo inspirada. No caminho de volta para casa, eu subia as escadas, e saudava aquela foto erguendo o punho novamente, e continuava minha marcha para mais batalhas. [Ela pega um lenço de papel de seu decote e seca os olhos] É para isso que servem os seios!... Eu não sabia que eu estava sendo inspirada naquela época, mas eu estava. Mesmo que elas não estivessem tentando me fazer sentir assim, eu estava! Eu só queria parecer descolada, mas aquilo fez eu me sentir forte.

Gloria Steinem e Dorothi Pitman Hugher; Fotografia de Dan Wynn (1971); (Reprodução/Intenet)

Então, muito bem, estamos de volta à 5a série, e eu havia acabado de ser rejeitada por 28 crianças de uma só vez. E eu estava sentada sozinha na minha carteira, com um saco de plástico agora já vazio, com migalhas espalhadas nas minhas pernas, e eu estava nesta grande festa pela qual eu havia aguardado durante uma semana. Eu esperei pela festa por uma semana, festa para a qual eu não havia sido convidada. Mas por alguma razão eu me levantei, e festejei feito uma louca. Eu gargalhava alto quando algo engraçado acontecia. E quando a Srta. Lowe colocou a música para tocar, eu fui umas das primeiras a se levantar para dançar. Eu me juntei aos que dançavam, comi salgadinhos, bebi refrigerante, e me diverti, mesmo que ninguém me quisesse ali. Vocês sabem por que? Eu já disse—eu era uma babaca! Eu quis aquela festa! E o quê eu quero triunfa sobre aquilo que 28 pessoas querem que eu faça, especialmente quando o quê eles querem que eu faça e sair e ir embora. Eu me diverti muito. De verdade. E se alguém arruinou a diversão dos alunos da minha turma, isso é problema deles. “Como é que você é tão autoconfiante?”, “Eu sou uma babaca!” Tá bom? É minha diversão, a despeito do quê você possa pensar sobre mim. Eu vivo minha vida porque eu ouso. Eu ouso dar as caras quando todos os demais poderiam escolher esconder seus rostos e esconder seus corpos em manifestação de vergonha. Eu dou as as caras porque eu sou uma babaca, e quero me divertir.

Gabourey Sidibe discursa durante a Noite de Gala Mulheres de Visão da Ms. Foundation de 2014, em 1o. de maio de 2014 na Cidade de Nova York. (Fotografia de Astrid Stawiarz; Reprodução/Internet, USA Today)

E minha mãe e meu pai me amam. Eles quiseram o melhor da vida para mim, e eles não souberam verbalizar este desejo. Mas eu entendi. De verdade. Eles foram melhores pais do quê os pais que eles tiveram. Eu sou grata a eles, e a minha turma da 5a. série, porque se eles não tivessem me feito chorar, eu não seria capaz de chorar na deixa durante as gravações hoje em dia. [Toca as lágrimas com o lenço] Se não tivessem me dito que eu sou lixo, eu não seria capaz de mostrar que sou talentosa. E se todos tivessem sempre rido das minhas piadas, eu não teria aprendido como ser tão engraçada. Se eles não tivessem me dito que eu era feia, eu nunca teria procurado minha beleza. E se eles não tivessem tentado me derrubar em pedaços, eu não saberia que sou inquebrável. [Enxuga as lágrimas] Então, quando você me pergunta como eu sou autoconfiante, eu sei você está realmente me perguntando: como é que alguém como eu pode ser autoconfiante? Vá perguntar para a Rihanna, babaca!

c&p


2 comentários:

  1. Essa história de Gabourey Sidibe é de arrepiar e inspiradora. Excelente postt, obrigado!

    Gabriel

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  2. Muito interessante e motivador mesmo, parabéns pela postagem :)

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